domingo, 29 de agosto de 2010

Trabalhar duro e vencer

Viver em democracia é, entre outras coisas, estabelecer um patamar mínimo comum para todas as pessoas, o mesmo “ponto de partida” (se compararmos a vida a uma corrida) para todos. Isso é uma condição para que as pessoas efetivamente possuam o mesmo poder de decisão, ou seja, que as suas opiniões sejam valorizadas mais pelo conteúdo que possuem do que pela classe social de onde provém. Formar uma maioria pensante é mais importante do que formar uma maioria. Mas formar uma maioria pensante vai contra uma série de interesses que fundamentam as estruturas de dominação social.
Por “estruturas de dominação social” entendemos todos os meios utilizados por uma classe para fortalecer suas opiniões e anular as opiniões diversas, fazendo com que estas se tornem “erradas”, “sem sentido” ou “sem comprovação prática”. Dessa forma, a dominação é disfarçada, ela não se mostra de forma lógica, pois a própria lógica foi “privatizada” por uma classe que dita de várias maneiras os pontos de vista e os caminhos argumentativos que devem ser seguidos para que um pensamento seja considerado “coerente”. Porém, mesmo disfarçada, a dominação existe e atua diretamente na vida das pessoas marginalizadas.
Os meios utilizados para que a dominação seja efetivada vão de sutis mensagens transmitidas pela mídia em geral (jornais, revistas e televisão) a idéias passadas pela cultura, por livros e mesmo pela prática acadêmica e escolar. Ela não traz uma mensagem objetiva e direta, mas corta uma diversidade de alternativas possíveis pela raiz com sugestões que, a primeira vista, parecem banais, porém possuem uma carga de sentido que leva a pessoa a estabelecer uma espécie de ligação que faz com que o dominado esqueça a sua posição de dominado e que o dominador esqueça a sua responsabilidade em relação ao dominado.
Não podemos esquecer o grande número de trabalhadores que exerceu honestamente uma profissão durante a vida inteira e continua em uma situação social de negação, de abandono e indignidade. Assim, não é seguro pensar que a fonte da riqueza de uns é, antes de tudo, o “trabalho duro”, pois apenas o “trabalho duro” não é garantia de um futuro promissor. Muitas pessoas “trabalharam duro” na vida e não ascenderam socialmente. A maioria delas não teve acesso a uma escola de qualidade, e uma maioria “maior ainda” não teve a oportunidade de cursar um curso superior. É bom lembrar que quando se fala em “acesso” não se refere apenas à presença de uma escola bem equipada e com ótimos professores, mas também em uma condição social “de berço” que motive o indivíduo a participar da construção do seu conhecimento.
Esquecer dessa última frase é o que nos faz a ideologia da dominação. Assim, os que se sobressaíram podem recostar tranquilamente suas cabeças no travesseiro à noite e pensar: “eu estudei, trabalhei e sou um vencedor”, como se toda a riqueza que possuísse fosse produzida por ele mesmo. É nesse sentido que se fala na falta de interesse em formar uma maioria pensante, pois ela será capaz de observar a dominação praticada, ainda que exista uma quantidade enorme de estímulos que a levem a esquecer as alternativas em relação a essa dominação.
Não podemos, porém, deixar de olhar com esperança para o futuro. Devemos considerar nossa capacidade de transformar a sociedade em que vivemos (mesmo porque é o que fazemos diariamente, de forma inconsciente). É necessário que desenvolvamos nossa capacidade de detectar discursos hipócritas de dominação, que procuram pregar exatamente o que não fazem. Somente assim conseguiremos ampliar a nossa liberdade: não uma liberdade “forçada e abandonada”, mas uma liberdade digna e integrada.


Luís Henrique Kohl Camargo - GEDIS

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Primeiros passos


Faz escuro, mas eu canto...
Thiago de Mello
É lugar comum afirmar que uma longa caminhada se inicia com o primeiro passo. Acresço que as dificuldades naturais do caminho se tornam mais palatáveis quando compartilhamos a estrada, e o destino, com parceiros de ideias (e sonhos).
O grupo de estudos “direitos sociais na América Latina” (GEDIS) nada mais é do que a reunião de pessoas com pensamentos similares. Divergimos, quem sabe, quanto ao melhor caminho ou até em relação à forma de andar, mas certamente compartilhamos o mesmo objetivo: um mundo melhor, e não apenas para alguns.
Com esse intuito, que reconheço integra muitos discursos acadêmicos, mas ainda engatinha em termos práticos, é que o grupo se dispõe a compartilhar com a comunidade suas ideias, quase sempre na contramão do pensamento majoritário.
Assim, respeitando a divergência e pugnando apenas pela oportunidade de apresentar pontos de vista por vezes esquecidos ou desprezados, apresentamos desde já parte do pensamento individual de nossos integrantes.
E, caso você se identifique com nossa maneira particular de ver as coisas, estamos à disposição para discutir sua divergência ou suas sugestões (e-mail: grupogedis@hotmail.com).

Um abraço,

Régis Trindade de Mello.
(O grupo de estudos GEDIS é integrado por: Samuel Mânica Radaelli, Mestre em Direito, advogado e professor universitário; Régis Trindade de Mello, juiz da justiça do trabalho e professor universitário; Cleiton Luis Chiodi e Luís Henrique Kohl Camargo, acadêmicos do curso de Direito)