quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Prognóstico sobre a nova paralisação dos caminhoneiros no Brasil

Notícias recentes dão conta da existência de nova paralisação dos caminhoneiros em vários pontos do Brasil. Não se sabe ao certo o teor da pauta de reivindicações. O que se sabe, a princípio, é que mais uma vez o movimento dos caminhoneiros é cerceado por pautas totalmente alheias às reivindicações da categoria. Os veículos de comunicação indicam razões diferentes para as paralizações, que vão desde negociações frustradas com o governo federal até a saída de Dilma.

Portanto, tudo indica que haverá uma nova tentativa de utilização da classe dos caminhoneiros como massa de manobra para fins políticos. Importante observar: os caminhoneiros empregados, que compõem grande parte da frota brasileira, não têm muita escolha, pois estão submetidos aos interesses de seus empregadores. Estes, por sua vez, estão em sua maioria contra o governo petista. Também há os empregados e caminhoneiros autônomos que compram a lógica dos patrões e da massa, passando a deliberadamente acreditar nesse discurso requentado e seletivamente antipetista. Logo, não é de se estranhar que a mobilização tome corpo dessa forma repentina, mesmo sem um motivo extraordinário que justifique a instantaneidade da mobilização e sem o apoio dos sindicatos da categoria. Vejam: os próprios sindicatos declaram inexistir uma pauta de reivindicações além da pauta “anti-PT”.

Na verdade, as reivindicações da paralisação atual não têm nada a ver com a categoria dos caminhoneiros. Trata-se, obviamente, de um ato político, grosseiro, que se utiliza da força e da importância do caminhoneiro como forma de instituir um estado de caos econômico que inevitavelmente será atribuído ao governo de Dilma.

Assim, é possível afirmar, a título de prognóstico, que se trata de mais uma tentativa golpista encetada principalmente por empresários do ramo de transporte de cargas para destituir um governo eleito democraticamente pela maioria dos votos diretos e iguais de toda a população brasileira. Isso demonstra que a democracia brasileira ainda não amadureceu – não se vê nos Estados Unidos, por exemplo, tentativas desse calibre para destituir o presidente Obama, em que pese haja uma oposição atuante naquele país.

É preciso saber viver em uma democracia. Para isso, é importante, no mínimo, aceitar o resultado das eleições. A partir daí, fazer oposição para, no próximo pleito, tentar uma vitória democrática, com o voto da maioria dos cidadãos brasileiros – como o foi a vitória da atual presidenta Dilma Rousseff.

Utilizar os caminhoneiros, trabalhadores de extrema importância para o Brasil, como forma de se sobrepor ao resultado das urnas é nada mais que tentar impor goela abaixo um governo diverso daquele eleito pelo voto popular. Em outras palavras: utilizar o trabalhador como ferramenta para invalidar a vontade do voto do povo.

Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A redação do Enem e a violência contra a mulher

O tema da redação do Enem 2015 foi “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Em muito boa hora: na quarta-feira passada, dia 21/10/2015, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a proposta de lei que visa dificultar o acesso à pílula do dia seguinte e a tratamentos abortivos, mesmo às mulheres que foram estupradas.

A violência contra a mulher está tão infiltrada em nosso cotidiano que, muitas vezes, nem sequer a percebemos. Já estamos tão acostumados que essa triste realidade tornou-se um simples detalhe de plano de fundo da sociedade.

Por incrível que pareça, estamos acostumados com a cultura do estupro. Chegamos a aconselhar nossas meninas a vestirem-se de certa forma que não atraia olhares e desejos de estupradores em potencial. Mas vamos além: culpamos aquela moça que transgrediu essa regra, afinal, minissaia, sozinha à noite é igual a “pedir para ser estuprada”.

Estamos acostumados com o terceiro turno feminino. A mulher trabalha, estuda, volta para casa e precisa cuidar dos filhos e fazer comida para si, para as crianças e... para o marido! Isso ainda é uma realidade em muitas famílias, mas não deixa de ser uma violência contra a mulher.

A mulher é assediada no trabalho, na rua, na universidade, na escola. Afinal, temos como normal que o homem tenha mais desejo sexual do que a mulher. O desrespeito é normal, o constrangimento feminino é normal, a crueldade logo passa a ser normal. Mas, não satisfeitos com esse vergonhoso contexto social, novamente vamos além: orientamos as mulheres a “não dar mole”, a “cuidar suas condutas”. Castramos as mulheres, fazendo-as duplamente vítimas: a uma, porque foram vítimas do assédio; a duas, porque não se comportaram da forma adequada para evitar o assédio!

A violência contra a mulher vai além da agressão física. Aliás, essa é apenas a ponta de um gigantesco iceberg. Ela está em nosso dia-a-dia, principalmente no dia-a-dia das mulheres. Ela atua contra a sexualidade da mulher, contra o comportamento da mulher, contra a identidade da mulher, contra o trabalho da mulher, contra o corpo da mulher.

Como se não bastasse, alguns sujeitos morbidamente instalados na Câmara dos Deputados decidiram ajudar: resolveram dificultar ainda mais a vida da mulher – veja, e não de qualquer mulher, mas da mulher vítima, a mulher estuprada, a mulher em crise. Em nome de uma bancada pseudo-religiosa, os direitos das mulheres são novamente alvejados.

A ala conservadora vem conseguindo atingir seus objetivos: conservar a triste, humilhante e sofrida realidade da mulher brasileira na atualidade.

Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis