Lacerdópolis, SC, tem menos de três mil habitantes, mas tem câmeras
de vigilância (fonte: www.radiocatarinense.com.br/novidades.php?id=1952&cat=4). Abelardo Luz também terá. O investimento causa
perplexidade: dinheiro público, que poderia ser aplicado em saúde e
educação, vai para a instalação de câmeras de videomonitoramento. Tudo
em nome da segurança pública. Será?
É curioso: as câmeras, de
regra, são localizadas nos centros das cidades – local que não costuma
ser o cenário dos crimes mais graves. Esse fator por si só tornaria
questionável a eficácia dessa política pública. Como se justificaria,
então, tal investimento?
Nesse caso, acaba-se utilizando o
recurso de todos para defender o patrimônio de poucos. O espaço de
proteção das câmeras de vigilância é muito restrito, reservado a poucos
privilegiados – aqueles que desfrutam de uma propriedade no centro da
cidade. O grande problema é que as câmeras acabam funcionando como uma
vassoura, “varrendo” a atuação do criminoso para as margens do
município. Assim, para os principais interessados (aqueles que
influenciam de forma contundente nas decisões políticas), o resultado é
positivo. Para a população em geral, contudo, o efeito é inverso – não
há indicativos de que a criminalidade tenha reduzido na área não coberta
pela vigilância eletrônica.
Além de tudo, o preço social a ser
pago pelo videomonitoramento é grave. A vigilância absoluta tolhe
espaços valiosos de espontaneidade humana, saudáveis à vida social. É,
também, uma invasão à privacidade, que é direito de todos. Além do mais,
o vigilante, escondido atrás das telas, observando tudo, não é vigiado
pela população, que fica vulnerável a uma série de abusos possíveis.
Em nome da segurança de todos, a segurança de poucos é reforçada com
dinheiro público, em prejuízo da intimidade da sociedade inteira. Ao
mesmo tempo em que localizam a criminalidade para fora do centro, as
câmeras de monitoramento artificializam a repressão, escondendo o
repressor. No final, transmitem uma sensação de falsa segurança
produzida por um discurso simplista. Tudo isso acaba por omitir as reais
intenções que fomentam a implantação das câmeras de vigilância.
Luís Henrique Kohl Camargo - GEDIS