Apoio a manifestação e a pauta dos caminhoneiros (a legítima, usurpando-me da expressão do amigo Bruno Picoli) e censuro a atuação truculenta das polícias federal e estadual, como aconteceu ontem em Xanxerê. Critico também a postura da Presidenta e do Governador, que apenas assistiram os caminhoneiros serem tratados com tanta violência sem sequer propôr um diálogo com os manifestantes.
Por outro lado, acho muito curioso a postura de várias pessoas que apoiam o movimento dos caminhoneiros (apoiam inclusive o bloqueio de ruas, coisa que repugnam quando se trata de outras manifestações): na greve dos professores de Santa Catarina, por exemplo, via-se esses sujeitos afirmando que professor era um "bando de vadio que não queria trabalhar". Professores queriam melhores salário e condições de trabalho. Caminhoneiros também.
Concluo que muitas dessas pessoas não estão nem aí para a pauta dos caminhoneiros, mas estão, na verdade, utilizando-se desses trabalhadores como massa de manobra para realizar seus interesses particulares: promover o colapso do país e forçar uma revolta contra a Dilma. Evidência disso é a infiltração de assuntos aleatórios na pauta dos caminhoneiros (como o "fim da corrupção") e a ocultação dos outros responsáveis pela situação (pedágios, por exemplo, dependem do ente que administra a estrada; redução dos impostos depende de aprovação no legislativo, além disso a maioria dos impostos que incide sobre as atividades dos caminhoneiros é estadual).
A falta de adesão à pauta justa dos professores e a adesão oportunista à manifestação (também justa) dos caminhoneiros demonstram que a preocupação não está ligada à melhoria da condição do trabalhador, mas sim à derrubada do PT. Outras pessoas, talvez por comodismo, acabam absorvendo essa lógica pré-cozida e direcionada ideologicamente.
Se essas pessoas estivessem realmente preocupadas com a situação dos caminhoneiros, procurariam se informar para saber de quem cobrar, e não apenas atribuir aleatoriamente a culpa de tudo ao governo federal. Isso ajudaria muito mais o movimento dos caminhoneiros, afinal manifestar-se indiscriminadamente apenas contra o governo federal é menos efetivo do que saber quem é responsável por cada medida necessária para a solução do problema.
A situação dos caminhoneiros é bastante complexa e merece o olhar dos Governadores e da Presidenta. O governo estadual e o governo federal são responsáveis por essa situação, e ambos deveriam, ao invés de expulsar à força os caminhoneiros, tratá-los com respeito e diálogo.
Todavia, aos caminhoneiros resta enfrentar, além da austeridade estatal, o cinismo dos mesmos oportunistas que parasitaram as manifestações de junho de 2013.
Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis
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