sexta-feira, 26 de maio de 2017




HORÓSCOPO DE TODOS OS DIAS EM UM BRASIL DE TEMER



ÁRIES – 21/3 A 20/4
A Lua unida a Plutão revela grandes incertezas para o futuro. Desconfie de reformas que prometem melhorar sua vida. Aumento de trabalho sem a devida remuneração é uma grande possibilidade. A ascendência de Plutão com Cérbero ameaçam o sossego na melhor idade. A sua cor é Terra cotta.

TOURO – 21/4 a 20/5
Plutão em azáfama com Vênus escancara que Minotauro tem fome da carne laboral. Muito cuidado com as propagandas fabulosas sobre modernização. Salários menores e jornada picada são apostas garantidas. Sua cor é Carmesin.

GÊMEOS – 21/5 a 20/6
Plutão em aproximação com Marte revela que Deimos e Fobos planejam retirar com mesóclises direitos que lhe são fundamentais. Com seus capachos, na surdina, tramam fazer-te dominado. Aterrorizam os pobres com projetos espúrios. Sua cor é Persimmon.

CÂNCER – 21/6 a 22/7
Plutão em dissensão com Netuno aponta um neoplasma amorfo crescente que subjugar-te-á caso não seja contido. Esteja atento ao abcesso empresarial que manuseia marionetes parlamentares contra os seus direitos. Sua cor é Pink.

LEÃO – 22/7 a 22/8
Mercúrio em rápida passagem por Hélio articula com seus lacaios um rápido conclame de peças marcadas. Fique atento às sessões parlamentares que já estão discutindo mudanças em seu trabalho sem que você nem mesmo saiba o conteúdo dos debates. Sua cor é Ruby.

VIRGEM – 23/8 a 22/9
Júpiter em colóquio com Gaia denuncia que Diana está sendo ludibriada por Arimã, que pretende através desta impor reformas que o farão conhecer as Moiras. Não se deixe seduzir pela flexibilização da jornada, flexibilizado estará o seu salário. Sua cor é Puce.

LIBRA – 23/9 a 22/10
Saturno em dialética com Hélio delata que Têmis, que do Olimpo observa as manobras, que de tão longe da plebe está, mal vê ou vê o que quer. Desconfie dos entusiastas do Aquiles da Cidade do Sorriso, seu calcanhar é maior do que se imagina. Sua cor é Rust.
ESCORPIÃO – 23/10 a 21/11
Marte privado de Vênus, trama uma grande maldade para quem precisa se aposentar na velhice. Esteja atento à publicidade que quer te convencer de que tamanho mal é para o seu bem. Sua cor é Magenta.

SAGITÁRIO – 22/11 a 21/12
Mercúrio distante de Plutão afirma que o Centauro está furioso com os partidos pangarés que de modo hipócrita enganam os trabalhadores em favor de seus donos. Fique atento aos discursos que dizem que as reformas não têm nada a ver com as siglas partidárias. Sua cor é Fúcsia.

CAPRICÓRNIO – 22/12 a 20/1
Hélio iluminando Gaia revela que Pã, nas pontas dos cascos, articula com Arimã uma orgia com os direitos trabalhistas. Fique atento aos pândegos, cidadãos de bem, amáveis, fiéis e companheiros, esses adoram dar rasteiras e receber votos. Por vezes tem pré-disposição a desprezar o ordenamento constitucional. Sua cor é Sangria.

AQUÁRIO – 21/1 a 19/2
Júpiter orbitando Hélio declara que as sereias, com seu canto, entorpecem os navegantes. Junte-se às nereidas que hoje saem às ruas. Para combater as reformas é preciso mais determinação e solidariedade de classe para pôr fim aos desmandos de Netuno. Sua cor é Violeta.

PEIXES – 20/2 a 20/3
Hélio radiante espera grandes mudanças em Gaia. Junte-se à massa de todas as cores que não se ajoelha ao temerário poder de um usurpador. Como as nereidas, exproprie o tridente de Netuno, e com esse vá pra rua hoje! Sua liberdade precisa ser conquistada! Lutar sempre, Temer Jamais! Sua cor é o Prisma.


Bruno Picoli e Jean Bacca, Professores


O REI ESTÁ NU*


Era uma vez, num país não muito distante, uma chefe de Estado com dificuldades para negociar com outros políticos importantes e influentes de seu pais.
Naqueles tempos nebulosos, surgiram, com as mais variadas máscaras, pessoas autointituladas guardiões da verdade e do bem. Um era pastor que sempre esbravejava ao falar; outro fazia filmes adultos quando era mais moço; havia um que usava toga e martelo em uma capital do Sul daquele pobre país; outro ainda era um ex-militar obtuso e oportunista... E ainda uma outra que era advogada, professora, e que afirmava que quando tinha 11 anos jurou a um chefe de Estado moribundo que zelaria por aquele país - esses profetas da verdade começam cedo! Um poderoso clã se uniu a esse grupo e, como controlava as comunicações daquele país, deixava todo mundo informado das incríveis descobertas dos guardiões da verdade. A verdade descoberta por eles era acessível apenas às pessoas de um certo nível. Segundo eles, os menos inteligentes não podiam ver...
A grande revelação é que eram todos corruptos, a chefe de Estado e sua agremiação política. Só não via quem não tinha a inteligência suficiente para ver. Muitos dos que passaram a ver o traje criminoso da chefe de Estado atribuíam a dificuldade em enxergar dos seus apoiadores ao regime alimentar: sanduíche de mortadela. Um grupo de empreendedores, visionários e honestos, conforme diziam os profetas, formado apenas por não comedores de sanduíche de embutido suíno, ofereceu um totem amarelo, um deus da guerra emborrachado, para o qual eram dirigidos os hinos de louvor e os versos decorados e coreografados. Todos o carregavam consigo. Cassada a chefe de Estado, foi empossado outro pelos guardiões. Esse outro era homem probo, só não via quem ainda estava preso à dieta de embutidos e farinha, era o que se dizia...
O véu da corrupção, jogado sobre a chefe de Estado e seus aliados pelos guardiões da verdade, liberava que os grandes corruptos agissem como queriam. Já sobre aqueles que matam antes de delatar, foi posto um véu de boas intenções, só não via quem não tinha a inteligência necessária. Tal qual ratazanas esfomeadas tinham pressa. Era preciso oferecer o sacrifício ao deus-pato-amarelo, tão esfomeado quanto àquelas.
Em pouco tempo aqueles que saíram às ruas contra a chefe de Estado já não viam mais a roupa de honestidade que o novo ocupante da cadeira e seus apoiadores, atucanadamente trajavam: “mas como admitir isso? E a vergonha, meu Deus?! Vão dizer que virei mortadela! Ou então, vão dizer que eu estava errado, que fui enganado, que vergonha!”. Ninguém mais via o véu, entretanto ninguém deles ousava dizer, bradar, a plenos pulmões!
Até que um dia, um fabricante de mortadela...
Bruno Antonio Picoli - Professor


O REI ESTÁ NU*

Que podre era aquele reino!
Cheio de desaventuranças.
Quem? A chefe de Estado
agremiada e sem alianças.
Corrupta até o talo!
Malfadada e em retalho.
Desprovida de esperanças.

Até que a dádiva surge:
Os guardiões da verdade.
Travestidos e mascarados,
personificando a sanidade.
Que pena: pois só inteligentes,
visionários um tanto regentes
sucumbem em perplexidade.

Hino de louvor
e verso declarado
não foi suficiente
pra manter anonimato.
E eis que o novo ocupante
temerário e ultrajante
vai perder o seu cajado.

O novo reino anunciado:
probo e iluminado.
não percebia que de máscaras
mostra-se apenas um lado
E que a verdade não seja dita
pois a mentira é atrevida
e pertence até aos calados.

Fábio Soares, Professor



* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 26 de maio de 2017
Há muito a TEMER*

É difícil escrever em um momento em que deveríamos gritar, mas ouço apenas um silêncio ensurdecedor. Sinto-me indignada, com raiva, assustada e só. Ao olhar em volta não vejo nada, nada além de rotina. Em meio ao caos, percebo uma ordem desesperadora. Indiferença, conformidade, e cada um em seu lugar. No lugar em que se está condenado a estar, seja por sua cor, gênero, classe social ou outras características que socialmente determinam onde devemos estar, o que devemos fazer e quem devemos ser. Há quem chame de vocação, há quem diga que se pode escolher o que se quer ser, mesmo que esta escolha seja limitada a certas possibilidades.
Mas ouso questionar, é uma escolha consciente do sujeito o lugar que ocupa ou este lugar que se ocupa no mundo é definido por variáveis que vão além de nós, de forma que muitas vezes, não permite que nos posicionemos, assim o que nos resta é aceitar. Somos estimulados à aceitação e conformidade o tempo todo, é um discurso comum. E imersos neste estado de conformidade a ficção satisfaz nossas relações, bombas calóricas satisfazem nosso paladar, mentiras satisfazem nossa audição. O que não nos afeta diretamente não nos interessa. E o que afeta? Pouco podemos fazer em relação a isso, então porque gastar energia, com o que pode ser ignorado e aceito?
Porém, em contrapartida, o que podemos fazer? Quando conscientes e sentindo necessidade de resistir, somos encurralados pela rotina diária e pelo trabalho. Não nos resta tempo para lutar, não nos resta tempo para resistir, não nos resta tempo para discutir, não nos resta tempo para ter voz. Precisamos sair de nossa zona de conforto, e perceber que para que algo aconteça é preciso agir. Sair da ilusão de que alguém vai fazer o que cabe a qualquer um, pois do contrário continuaremos culpando todo mundo, por algo que ninguém fez.

Monique Fernanda dos Santos


* Publicado na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 19 de maio de 2017
MATERNIDADE (DES)CONSTRUÍDA*

Parafraseando Simone de Beauvoir, não se nasce mãe, torna-se mãe. O tal instinto materno não existe, é introjetado desde o primeiro presente que uma menina geralmente ganha: boneca. O que há é o mito da mulher como máquina reprodutora de bebês e uma construção social em torno disso. Nem todas cultivam na vida adulta o sonho induzido na infância de ser mãe. Há aquelas que não almejavam a maternidade nem quando pequenas. E isso, de modo algum, significa não gostar de criança! Por vezes, não querer ter filhos é uma decisão altruísta.
A mulher é idealizada pela sociedade já no ventre materno: ‘fure a orelha!’, ‘use rosa!’, ‘brinque de casinha!’, ‘sente direito!’, ‘isso não é coisa de menina!’, ‘se depile!’, ‘essa saia tá muito curta!’, ‘batom vermelho tá pedindo!’, ‘tem que saber cozinhar!’, ‘case!’, ‘seja mãe!’. Aprendemos desde cedo as ‘boas maneiras’ para, no futuro, sermos mães e esposas convenientes. Ensinam-nos rapidamente que para sermos completas precisamos de filhos (de preferência mais que um) e um companheiro ao nosso lado. A própria referência à menina como princesa, comumente utilizada, sugere fragilidade e necessidade da figura masculina para proteger e sustentar. Sai o pai, entra o marido.
A única característica biológica que difere mulher e homem nos cuidados de uma criança é a amamentação no peito. Trocar fralda, dar comida ou ir à reunião de pais na escola não demanda nenhum outro atributo biológico especial. Porém, são raros os pais que, de fato, são presentes no dia a dia de suas crias. O patriarcado ainda é tão forte entre nós que a ideia do pai-ajudante-de-mãe é aceita naturalmente. Se ele cumpre suas responsabilidades enquanto pai, é chamado de paizão. E a mãe de sortuda! Quando na verdade está tão somente exercendo a paternidade, dividindo a criação dos filhos com a genitora.
Não é necessário ser mãe para saber que a fantasia de maternidade romântica, perfeita e maravilhosa, que toda mulher deveria vivenciar, é uma falácia. Não precisa ser mãe para se sentir completa e realizada. Escolher não ser mãe é um direito reprodutivo e isso não a minimiza ou a deixa menos mulher. Respeitemos! A maternidade deve ser uma escolha, não um fardo do qual não se pode escapar. Mãe sente, é igualmente gente. Parabéns, e não só neste domingo, às mães que também choram e reclamam. Que carregam a dupla ou tripla jornada. Que se sentem sozinhas, cansadas, inseguras e, às vezes, se arrependem e têm vontade de chutar o balde. Que possuem sonhos, desejos e vontades próprias. Dia das mães é mais uma data inventada pela sociedade de consumo, que vende a romantização da maternidade para gerar lucro.

Regina Miliorança



COMPULSÓRIA MÃE*

Mãe é Mãe né pai!
Como assim pensamos?

Introjetados e persuadidos
pela ilusória notoriedade
que a maternidade representa
em nossa sociedade.
É quase uma obrigação
ter filhos de montão:
compulsória maternidade.

Ainda lembro minha vó -
21 dos 14 vivos.
Um ano pra cada um
de longos partos repetidos.
Nem tudo foi alegria
pois a obrigação se fazia
em atender o vovô atrevido!

Lembro também da mamãe –
5 vivos e ela encantou
Deixou seu legado materno
que sempre vontade narrou.
Vil construção patriarcal
Que em encontro dominical
Tanto se consolidou.

Pra muitos: um dom divino.
Pra outras: possível questão.
O importante é compreender
o que se faz em construção.
Seja a mãe reprodutora
ou a escolha emancipadora,
ser Mãe é sempre opção.

Professor Fábio Soares

* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 12 de maio de 2017
O OUTRO LADO DA CIDADE*

Vi ontem uma menina que debatendo-se de um lado para outro, tentava olhar as pessoas e não conseguia...nem olhava pra ela mesma...só corria! E nessa corrida, vi passarem dias e anos de sua vida por entre meus dedos e não consegui reter a ideia em parágrafos. Tentei segurá-la e dizer para!!! Mas ela já fugia e fugi também eu.
Vi hoje alguém que se rolava na cama sem conseguir dormir. Tentei acalentar, mas os braços pendiam cansados da própria insônia...e eu dormi! Dormi enquanto a vida corria sem dar lugar ao sonho. No sonho sem sono,
os que dormiam lastimavam a falta dos braços que não acalentaram.
Vi uma criança abusada...sem ter noção do trauma, desenvolveu a agressividade. Ninguém conseguia saciar sua sede de vingança e por isso seus olhos verdes faiscavam sem noção. Qualquer motivo virava agressão e para tal não havia limites. E eu intervi. E seu olhar mesclava alegria e dor.
Qual o limite do amor da mãe nessa história? Deveria ser de força...mas virou paixão pelo agressor e ela soltou-se da filha e a deixou ir...pra onde? Pouco importava a distância, desde que fosse pra longe dos olhos do Lobo Bobo e seu olhar guloso. A mãe quis ser a chapeuzinho...nem viu que a própria filha havia entrado no bosque...com o lobo.
Vi um menino que chorava porque apanhou sem bater graças ao código de honra da luta que treinava...mas, para ele não sobrou honra nenhuma. Os que o consolavam insistiam em declarar: você só apanhou, não bateu. E ele engolia seu orgulho ferido com muitas lágrimas de dor e humilhação. Disse que não queria colocar a família no meio, mas ela veio e prostrou-se em frente ao colégio para a hora da vingança. Ela não ocorreu. A polícia chegou. O menino tem 11 anos.
Vi a professora acuada em um canto da sala enquanto a tempestade de vozes gritadas ecoava pela sala...raios, trovões e vento...forte! enquanto o temporal ocorria, a professora ensinava... Português ou Matemática? Não havia como identificar, nem ela própria sabia...sabia, antes de entrar na sala de aula, depois já nem sabe o que fazia ali.
Vi uma menina que saiu da casa lar pra enfrentar a vida e logo viu que não segurava nem a dela... . Daí, resolveu fazer um filho em si mesma. Começou o seu longo parto aos 12 anos de idade e espalhava sua própria revolta fazendo da barriga um troféu à tristeza. Os outros que a aguentassem porque ela estava grávida... e agarrou a mão da professora e chorou todos as suas lágrimas... queria passar a responsabilidade daquela vida que ela via agora que já era, que ela não queria. Então, começou a beber.
Vi uma criança envolvida em assassinatos...mas era menor de idade e devia frequentar a escola...então, ela foi estudar... Maneiras de agredir ao outro que não tinha tempo de ficar ao seu lado na hora em que ela mais precisava. Ai, resolveu bater. Chamou a atenção da profe...empurrou-a com seus braços, não pra matar, só pra mostrar seu grande drama pessoal! Mas a professora caiu ...Ocorrência!!! A justiça foi “feita” ...mudou de escola. Resolveu-se o “problema”.
Vi uma menina com grande dom pra arte, mas morava numa casa com irmãos, tios , primos, vó,vô...sem mãe, porque a mãe largou os filhos para seguir um novo amor. E eles, os filhos, ficaram...na rua ou na casa do outros. A menina dessa história tinha pai e ele a levou pra casa. A ela e a um novo filho que era filho da mesma mãe...só!
Vi esse mesmo menino guardar drogas na mochila e sair com os olhos alucinados correndo pela sala de aula para conter a adrenalina. Enquanto isso, a rotina escolar corria...gritos, correria e quadro...negro!!!Esta´ politicamente correto? Posso referir-me ao caos como negro já que o quadro é branco? Branco de quê? De limpeza, pois se alguém tenta escrever e ensinar, vem aquele que não enxerga e, por isso mesmo, apaga com seu corpo o que está escrito enquanto a profe tenta escrever.
Vi este menino que não vê, criar teias de aranha em sua cadeira...não tem o que fazer! Não há material e nem vontade, pois construíram pra ele um castelo de longas torres em que ele pode se isolar. E acreditar que não tem destino ...enquanto isso, aproveita o seu laudo sem direito a segunda profe, afinal ele consegue sair da sala sozinho e ir até o lanche e sabe usar o banheiro…por que não consegue ler?
Vi uma sala do fundamental cheia de alunos que não sabem ler, mas passaram pela alfabetização, afinal pra que permanecer no mesmo ano? O número também não muda? Então, eles se amontoam na sala e fingem com indisciplina ou solidão um mundo de letras e símbolos que não lhes pertencem. Então, vi a professora, no meio do tumulto chorar, porque um aluno leu uma frase...inteira! E não “sabia” ler, só copiava o que mandavam. Mas leu. No único minuto de paz que houve na sala. Depois tudo voltou ao “normal”.
Vi a dor em forma de violência, a inocência em forma de lascívia, a revolta transformar-se em risos histéricos embriagados, a decepção travestida em TDH, a esperança guardar-se no fundo dos olhos...quem sabe um dia? Cheguei mais perto da sala e vi lá, no fundo acuado, pares de olhos vibrantes grudando em mim, como se dizendo: continua! E eu continuei...
Enquanto isso, o governo tem uma fórmula para o novo Ensino Médio...

Marcia Brasil Stonoga, Professora, especialista em Estética


INVISIBILIDADES*

Vida olhada,
vivida, partida, juntada.
Mardita, bendita, frustrada,
corrida e de noite enfadada.
Vida olhada,
Ardida, sentida e amada
por quem dela faz a estrada
de uma vida invisibilizada.

A vida, na verdade é...
aquela que dela se faz.
Em fuga dos medos de mim
ou quem sabe de um Alcatraz.
Correndo sem olhar para os lados.
Sem escrever seus lindos parágrafos,
sem sonhos e uma insônia costumaz.

Os braços da vida acalentam
Outras vidas que deles precisam.
Abusos de arbustos florescem
de forma vigente, ardil e paralisam
pequena vida vivida e entorpecem
com raiva e vingança que aparecem
chafurdando os que no sonho acreditam.

E amor? Com amor se paga?
Nem sempre é isso que acontece.
Por vezes, o amor se apaga
dando lugar ao que empobrece
o amor, que em estupor se instala
fazendo do amor luz macabra
e o Lobo que da Chapeuzinho se apetece.

A violência daí surge um tanto
como mágica sem explicação? Não!
É construída e alicerçada em cantos,
gabinetes e a falta de educação
prum” povo que vive de encantos,
promessas, conchavos e de mandos
dos que no poder sempre estão.

Abandono, assassinatos e tráfico.
Gravidez, orfandade e estelionato.
Assaltos, que de tanto, é natural.
A tristeza é o cardápio do prato.
As lágrimas vêm a acompanhar
a realidade de um buffet espetacular
recheado do mais visível anonimato.

Atordoados vivem professores,
trabalhadores e mais um montão.
sem saber e nem o que fazer
envoltos em um turbilhão
de notícias que nos entristecem
ainda mais porque se repetem
noite e dia em corrupção.

E o pior é que uma proposta é feita
por esses que em cheque estão.
Passando-se por redentores,
reformadores da educação.
Dio mio! Acuda-nos em roga
Por que mais esta prova?
Não basta a atual situação?

Fábio Soares da Costa, Professor


* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 05 de maio de 2017

O QUE QUEREM OS CONTRÁRIOS À JUSTIÇA DO TRABALHO?*

De tempos em tempos surge alguma ofensiva contra a Justiça do Trabalho. Advogam aqueles que defendem os mesmos interesses que esse ramo especializado do judiciário gasta muito, mas oferece algo que poderia ser alcançado por outros meios (negociação com entes sindicais ou distribuição direta pelos empresários) e prejudica substancialmente a geração de empregos (a proteção seria excessiva e o empresário “sempre perde”, argumentam). O espaço é pequeno – embora valioso – para a defesa de uma instituição pensada para oferecer resposta célere e adequada constitucionalmente especialmente àqueles destituídos de voz e força (especialmente econômica).
Talvez seja necessário, para reforçar a importância do judiciário trabalhista, salientar a relevância do próprio trabalho na vida do ser humano. Por meio do trabalho, o ser humano modifica a natureza e alcança satisfação material e espiritual, integrando-se a outros (vivência social que humaniza) e dignificando-se, especialmente quando é seu o resultado de seu esforço. Esta importância é diminuída sorrateiramente por uma mídia controlada por grandes grupos econômicos e, também, em espaços geográficos menores, por periódicos e colunistas na maior parte das vezes vinculados ao poder econômico local. Essa vinculação promíscua permite a proliferação de interesses velados, propagados como certos.
Em seu aspecto econômico, é necessário também afirmar que é pelo trabalho – e principalmente pelo emprego – que a grande maioria das pessoas tem acesso a condições materiais mínimas de subsistência. Por fim, em sua vertente jurídica, o trabalho é um direito, garantido pela Constituição, ao lado de educação, saúde, alimentação, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Logo, não faz favor algum quem gera emprego, pois é uma obrigação da sociedade (e do capital) oferecer trabalho!
O trabalho a ser ofertado, por sua vez, deve ser digno ou decente, pois a Constituição exige a valorização social de quem trabalha. Nesse rumo, soa absolutamente falsa a afirmação de que qualquer trabalho é melhor do que nenhum (tese em voga, atualmente), o que – em rigor - justificaria até mesmo o trabalho escravo tradicional. E trabalho decente é o socialmente protegido, com salário suficiente para atender as necessidades familiares e jornada máxima respeitada, com efetiva negociação coletiva (cuja finalidade hoje é desvirtuada) e sem qualquer tipo de discriminação negativa em que exista uma vinculação direta de quem trabalha àquele beneficiado pelo resultado de sua produção (o que não acontece, por exemplo, na famigerada terceirização).
O direito ao trabalho decente pressupõe ainda assegurar sua proteção contra abusos do poder econômico (afinal, as primeiras normas de proteção ao trabalho surgem em virtude da exploração do ser humano por outro ser humano, ocasião em que preponderava a “livre negociação” e, em virtude disso, salários miseráveis para jornadas indecentes...). Aqui, para rechaçar a tese de que a proteção ao trabalho é excessiva, basta questionar: que proteção em excesso é esta que não protege nem mesmo o emprego das pessoas? Sim, a relação de emprego no Brasil não conta com uma efetiva proteção (embora exista uma ordem do constituinte neste sentido, desde 1988, nunca regulamentada). O empresário pode a qualquer tempo, exceto nos restritos casos de estabilidade no emprego, despedir aquele que para ele trabalha, independentemente do tempo de serviço, das condições familiares e da idade, como exemplo.
Por outro lado, de pouca efetividade seria o princípio de valorização social do trabalho se ao trabalhador não se assegurasse o acesso a um meio eficaz e rápido de cobrança de seus direitos. Imprescindível para tanto uma justiça especializada em questões que envolvam o trabalho humano, composta por pessoas com formação específica para a salvaguarda de conquistas históricas dos trabalhadores.
Afirmar que os empregadores sempre perdem nesta justiça é, para medir as palavras, no mínimo temerário. Uma alegação destas exigiria, ao menos daqueles que conhecem os princípios do jornalismo, uma demonstração numérica desta conclusão. Na verdade, cerca de 10% das ações propostas na justiça do trabalho são julgadas totalmente improcedentes (o pedido do empregado é integralmente rejeitado) e, em outro tanto, o pedido é integralmente acolhido. Na maior parte dos casos, portanto, o pedido do empregado é parcialmente acolhido, o que significa dizer que algumas pretensões são atendidas e, outras tantas, rejeitadas.
Os motivos desse acolhimento parcial podem ser explorados em outra oportunidade, mas a título de curiosidade deve ser dito, desde já, que em cerca de 50% dos casos a pretensão envolve verbas rescisórias (ou seja, os empregados perdem o emprego e não recebem nem sequer as verbas finais). Aliás, temos exemplos recentíssimos dessa situação em Xaxim. A justiça do trabalho protege demais ao acolher o direito destas pessoas? Sem a Justiça do Trabalho, os empresários vão entregar o dinheiro devido diretamente aos trabalhadores?
Pensemos!

Régis Trindade de Mello, Professor e Juiz do Trabalho



ADMIRÁVEL GADO NOVO!*

Ôôô, boi

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber

E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer

Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!

Assim,
Zé Ramalho me inspira
a pensar sobre o tratado.
E aqui, sobre a justiça
a transformar-se em retalho
por aqueles a reclamar
que sempre perdem um lugar
na justiça do trabalho.

Vejam só que curioso
santa bondade empresarial
que julga prestar favor
como se direito não fosse tal
E que tal sem a justiça,
pra proteger-nos da movediça
areia proposital?

Trabalho é dignidade
e com decência de ser feito.
Por ele bem receber
pra ficar bem satisfeito.
E a justiça é muito bem-vinda
pra garantir, quando na berlinda
eu trabalhar para um malfazejo.

Fábio Soares da Costa, Professor




* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 28 de abril de 2017
UM PROJETO PARA A MEDIOCRIDADE*


Darcy Ribeiro dizia que a crise da educação brasileira é um projeto. O idealizador da Universidade de Brasília e dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) sabia do que estava falando. Darcy Também dizia que a elite brasileira é ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir em frente. Por não se curvar ante ao poder dessa elite, Darcy foi exilado, cassado e caluniado, não recebendo no Brasil o reconhecimento que goza fora. As duas afirmações acima são centrais para compreender o que significa a reforma temerária do Ensino Médio nacional.
Que fique claro que não se afirma aqui que o Ensino Médio que temos é bom e que seu currículo dá conta das necessidades dos jovens estudantes. Diante disso, desde 2013 há uma minuta pronta para ser apreciada pelos deputados federais que altera o currículo e o formato dessa etapa da educação básica (trata-se do PL 6840/2013, cujo texto foi debatido em audiências públicas por todo o país e não foi proposto por um deputado, mas por uma comissão com deputados de todas as bancadas). Como Temer e seus comparsas não dão a mínima para o processo democrático, apresentaram uma reforma de cima para baixo, via medida provisória, já aprovada pelas duas casas legislativas (Lei 13415/2017), que comprovam as duas frases de Darcy.
A propaganda temerária vende o novo Ensino Médio como o “da escolha”. Esqueceram de contar na peça publicitária que nem todos terão direito a escolher o itinerário formativo que gostariam de estudar. É isso mesmo! A Lei 13415/2017 atribui às redes de ensino a responsabilidade por definir a especialidade ofertada por cada escola sem estabelecer um mínimo de opções. Isso quer dizer que em municípios com apenas uma escola com Ensino Médio (situação comum em nossa região), a rede estadual pode dar ao jovem o privilégio de escolher entre Matemática e Matemática! Ou entre Ciências da Natureza e Ciências da Natureza! Uma beleza, não?!
Mas fiquemos tranquilos! Isso não está ruim para todos! Afinal, para os que podem pagar por Ensino Médio privado as coisas não mudam muito! As redes podem ofertar todos os itinerários formativos, ao mesmo tempo, para todos os seus alunos! Assim, terão mais aulas de história, de física, de matemática, de biologia etc. Se a rede de ensino quiser pode oferecer todos os itinerários menos o técnico! Afinal, que os filhos dos pobres aprendam a trabalhar! Afinal, quais jovens estarão mais preparados para a vida social complexa e tecnológica? Quais estarão em melhores condições na disputa por vagas em universidades de qualidade?
Agora, para aqueles que matricularem seus rebentos na rede pública, especialmente a estadual, meus sentimentos! O projeto denunciado por Darcy ganhou um novo capítulo e aquela gente medíocre e azeda avançou!


Bruno Antonio Picoli, professor




PROJETO AZEDO*


Um dia, o querido Darcy
muito bem antecipava
que o entrave do país
muito fácil se enxergava:
a elite brasileira razinza,
azeda e interesseira
morro abaixo empurrava.

Vemos muito bem
a democracia arquejando
discursos em troca da discussão
e a educação afundando.
Concebida de uma medida provisória
sem um pingo de memória
e o povo se lascando!

O ensino médio da escolha
Não tem escolha alguma.
Falácia e verdade escondida
atrás de um “novo” de alcunha.
Já pensou escolher sem opção
Numa parca dimensão
que de escolha não há nenhuma.

O projeto ganhou asas
e a elite consegue voar
ao contrário dos mais pobres
que continuarão a apanhar
por falta ou nenhuma opção
quero dizer a “técnica” terão
para logo trabalho virar.


Fabio Soares da Costa, Professor


* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 20 de abril de 2017
QUE OS MORTOS NÃO ENTERREM OS VIVOS*

Educação vem de casa!”. Essa premissa contém um pouco de verdade e muito de ilusão. Isso depende do que compreendemos por educação. Se por essa palavra polissêmica compreendemos “boas maneiras”, “respeito aos mais velhos”, e tudo o que de bom e de mau cabem nesses dois valores, a afirmação é demasiado acertada. Mas é possível que existam dimensões más em “ter boas maneiras” e em “respeitar os mais velhos”? Se por bons modos for entendido comedimento irrestrito à moral vigente e pudor extremo ao agir diante de uma situação que prejudica o próprio indivíduo ou terceiros, possuí-los (os bons modos) é um valor negativo. É portador desses bons modos prejudiciais o indivíduo tomado por tamanha passividade para quem sair às ruas contra o desmonte de direitos tão elementares quanto à dignidade do trabalho, a aposentadoria em tempo compatível com seu desfrute e o acesso a serviços públicos com qualidade e crescentes é “coisa feia, de quem não tem nada mais importante fazer”. Ser diretamente atingido por essas violações não é o suficiente para que supere as amarras morais do “cidadão de bem”.
Respeitar os mais velhos também é um problema se tal postura se der como servilismo envernizado, ou seja, muda-se o suporte tecnológico, mas não se experimenta a vida de modo diferente e novo. O respeito absorto à tradição, ao que é mais velho, impede a inauguração de uma forma nova e superior de viver a vida, tornando-a refém do passado. Há uma pergunta de Nietzsche que merece ser respondida por cada indivíduo: “se condenado a viver por toda eternidade, a vida que vivo e o mundo em que vivo essa vida, satisfazer-me-iam?”
Educação vem de casa sim, mas não só! Há um conjunto de instituições que educam e é possível afirmar que a educação de um indivíduo ocorre o tempo todo e em todos os espaços. Além disso, educar é mais do que ensinar a se portar e sobretudo não é dizer o que um indivíduo tem que fazer, privando-o de outras perspectivas alternativas. É possível ser educado para o não pensamento, para o servilismo, para se entregar como refém voluntário de uma tradição que impede que a novidade apareça. Esse modelo de educação é o que impede o questionamento aos valores morais tão caros aos indivíduos e suas famílias, que interdita qualquer perspectiva reconhecida pela comunidade científica, caso representem ameaças racionais às crenças do grupo ao qual pertence (sejam elas religiosas, morais e/ou científicas).
É possível também ser educado para o pensamento (que não é mero raciocínio lógico). Porém, para tal, às vezes é preciso estar disposto a questionar seus próprios valores, suas tradições, crenças e autoridades. Significa questionar os mais velhos e, não raro, dispensar as boas maneiras servís. Talvez até para reassumir as crenças e valores que possui, dessa vez a partir de uma perspectiva amadurecida, de uma escolha de fato, já que seu horizonte de possibilidades não foi limitado a esses conjuntos restritos e restritivos de valores.

Bruno Antonio Picoli, Professor



EDUCAR-ME-ÃO*

Digo-te leitor
um tanto de pensamento
que se misturam em mim
a procurar vil alento.
Repensando a tradição,
e o que haveria de ser educação
neste temerário momento.

Educação de casa é muito boa?
Sobretudo se há obediência
à moral e os bons costumes
sem nenhuma dissidência,
Aos mais velhos em respeito
e um questionamento bem estreito
que não desamarra aparência.

Viver a vida em passado
satisfaz a tradição
Mas isso me satisfaz?
Ou impede a inauguração?
De uma nova forma de viver
e de muito entender
servilismo e escravidão.

A educação não pode impedir
perspectivas alternativas.
Praticar o não pensamento
às sombras exortivas
de crenças religiosas, morais
e também científicas.
De modo restrito e fechado
como pássaro engaiolado
de cantoria sem expectativas.

Fábio Soares da Costa, Professor



* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 07 de abril de 2017
A ACEFALIA DA MÍDIA REGIONAL*


Ahhhh! Quanto rock dando toque, tanto Blues, e eu de óculos escuros vendo a vida e mundo azul” (Dandy, Belchior)
Enquanto a mídia nacional se revela nociva em razão da propagação de opiniões, a mídia regional também mostra-se desajustada ao interesse público, mas pela razão inversa: a ausência de opinião. Embora ambas comungam da dimensão feudal de nossa sociedade, que distribui bens a famílias de acordo com interesses espúrios, postos na economia das trocas de favores políticos, a mídia regional, especialmente no ocidente catarinense, tem se revelado incapaz da produção de conteúdo regional, seja no campo da cultura artística, mas principalmente no âmbito da cultura política.
Nos meios de comunicação da região, no que diz respeito a produção e a difusão de compreensões sociais e políticas, o que se percebe é o predomínio da trinca: imitação, repetição e bajulação. Tal conclusão se chega ao perceber quantas vezes por semana, ou por dia, são reproduzidos nas rádios da região, gravações de comentários feitos por pretensos analistas guardiões do conservadorismo, os mesmos se revelam bons apenas na capacidade de jacular adjetivos e em sintetizar em falas de poucos minutos, as glosas do obscurantismo irracional. Fenômeno reforçado com a reprodução de parágrafos em jornais de circulação municipal ou regional, feita por estes “analistas” de “além-grota”. Tais comentários servem apenas a reafirmação do atraso intelectual.
No âmbito do colunismo político escrito, nestas latitudes ensaiam-se cronistas cuja pauta se pauta pelo afago aos caciques políticos, em orações curtas cabe o grosso do raso senso comum, a ele se conjuga outro elemento ainda mais perigoso: o culto a subalternidade por meio do discurso laudatório sobre quem possui o poder. Na postura rastejante, assumida existencialmente por colunistas políticos, crítica cabe somente àqueles que diante destes “textos” não tem força para reclamar.
Nossa região é ainda miserável no que diz respeito á ciência e a cultura artística. A produção de ideias é o grande desafio desenvolvimentista, sem ela o monopólio da mortadela pouco alimenta (grande produto regional, que aliás, sofre com a detração praticada por movimentos conservadores mistificadores de alguns dos “analistas” aqui retratados).
Ao invés da imitação e repetição dos detratores da(os) mortadela(s), ou da bajulação das famigeradas “liderança locais” a mídia regional precisa assumir uma postura crítica, comprometida com a autenticidade, disposta a olhar para as contradições da realidade, ao invés de tentar torná-las naturais ou ocultá-las. Neste sentido, um espaço como a coluna Pimenteiro do jornal Data X é uma novidade importante, pois apresenta uma proposta autêntica e crítica, desafiadora do mandonismo e do espirito de rebanho, fazendo com que a palavra sirva a expansão do imaginário.


Samuel Mânica Radaelli – Professor e Doutor em Direito.




ENVIESADO*

Esse mundo de verdades
de muitas opiniões também.
De uns propagando alarde
de outros o que lhe convém.
É preciso serenidade
entender a alteridade
pra viver por um além.

Mídia é comunicação e
comunicar é mesmo poder.
O quarto dos outros três
há sempre quem diga ser.
O problema é a acefalia
metamorfoseada em desvalia,
descrédito em arvorecer.

Cultura política é uma construção
que dela a mídia faz parte.
Seja com tenaz reprodução
ou silenciamentos a la carte.
É quando analistas que “pensam”,
jaculam adjetivos e encenam
perfeita pseudointelectualidade.

Quantos políticos afagados!
Latentes colunistas subalternos.
O que é preciso desenvolver?
Ideias e uma cultura de nexos:
artística, política e crítica
altiva, serena e à vista
sem os detratos convexos.


Fabio Soares – Professor e mestre em Comunicação
* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 31 de março de 2017