DORMIR,
TRABALHAR, CONSUMIR E DORMIR
Assim como toda mulher é muito mais que um
rostinho bonito, toda cidade deve oferecer muito mais que moradia e trabalho a
quem, por escolha ou não, vive nela. É sua obrigação proporcionar e investir em
lazer e, por consequência, qualidade de vida, que por sua vez faculta em saúde,
educação e cultura. A mesma população que demanda por escolas e postos de
saúde, também precisa de espaços públicos qualitativos e gratuitos para exercer
o lado poético da vida.
O lazer está relacionado aos momentos de
prazer e não pode ser privilégio de poucos. É um direito. Está na Constituição,
apesar de atualmente isso já não significar muita coisa. É nos parques, praças e ruas que a vida
acontece, são nesses espaços que exercemos a cidadania e estreitamos nossas
relações com o espaço urbano.
No (velho) oeste catarinense as áreas de
lazer não são muito comuns, limitando-se, na maioria das vezes, em uma praça no
centro da cidade e campos de futebol improvisados. Por aqui tudo que foge a
rotina de trabalho-casa-trabalho é coisa de vagabundo, inclusive lutar pelos
próprios direitos.
Ganha mais voto quem promete asfalto e não
novos parques ou praças. E quem vota assim pensa que carros, e não pessoas se
divertindo, trazem vida aos espaços públicos. Por aqui, as pessoas clamam por árvores,
mas todo inverno realizam as podas irresponsável nelas. Por aqui as pessoas
querem mais verde, mas quando se propõe um parque para um bairro, ele fica
distante e ninguém usa. Por aqui, as pessoas dizem que não têm bandido de
estimação, mas não foram às ruas – como outrora – protestar ‘contra tudo o que
está aí, o conjunto da obra’.
Lazer não é só viajar, ele precisa ser
possibilitado e vivido aqui (ainda que valorizemos os calçadões de outros
lugares e o nosso não). Apesar das reformas temerárias avançarem a passos
largos no Congresso Nacional, o lazer não deve ser pensado tão somente como um
contraponto ao trabalho, é uma expressão humana, ora individual, ora coletiva.
Porque a vida não se resume em trabalhar para consumir, dormir para trabalhar e
consumir para existir.
VIDA
E ESPAÇO
“Bebida
é água!
Comida
é pasto!
Você
tem sede de que?
Você
tem fome de que?...
A
gente não quer só comida
A
gente quer comida
Diversão
e arte
A
gente não quer só comida
A
gente quer saída
Para
qualquer parte...”
Comi
muito hoje.
Talvez
por me fazer feliz!
Talvez
porque estava ansioso!
Talvez
porque alguém me diz:
que
comi porque trabalhei,
duramente,
incessante, cansei,
e
que dormir me faz aprendiz.
Se
a vida é um trepidante círculo
de
trabalhar, consumir e dormir,
o
que nos resta pra pensar
sobre
mim, tu e sentir?
Como
criar com o ócio,
sem
que tudo seja um negócio
de
ganhar, gastar e sucumbir?
Os
distantes discursos e práticas
sobre
ambiente, trabalho e alegria,
tornam-se
muito mais frequentes,
tendo
teimosa companhia.
Aquela
de pura falácia
misturada
com fina audácia:
que,
sem atitude, é triste ironia.
Me
pergunto agora:
o
que dá vida aos espaços?
Verdejantes
campos e parques?
Ou
asfalto para desfile de carros?
Atentemos:
Lazer
é expressão humana
individual,
coletiva e soberana
que
reúne nossos tantos pedaços.
Fabio Soares
Publicados em 05
de julho na Coluna Pimenteiro do Diário Data X
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