sexta-feira, 18 de agosto de 2017



DORMIR, TRABALHAR, CONSUMIR E DORMIR

Assim como toda mulher é muito mais que um rostinho bonito, toda cidade deve oferecer muito mais que moradia e trabalho a quem, por escolha ou não, vive nela. É sua obrigação proporcionar e investir em lazer e, por consequência, qualidade de vida, que por sua vez faculta em saúde, educação e cultura. A mesma população que demanda por escolas e postos de saúde, também precisa de espaços públicos qualitativos e gratuitos para exercer o lado poético da vida.
O lazer está relacionado aos momentos de prazer e não pode ser privilégio de poucos. É um direito. Está na Constituição, apesar de atualmente isso já não significar muita coisa.  É nos parques, praças e ruas que a vida acontece, são nesses espaços que exercemos a cidadania e estreitamos nossas relações com o espaço urbano.
No (velho) oeste catarinense as áreas de lazer não são muito comuns, limitando-se, na maioria das vezes, em uma praça no centro da cidade e campos de futebol improvisados. Por aqui tudo que foge a rotina de trabalho-casa-trabalho é coisa de vagabundo, inclusive lutar pelos próprios direitos.
Ganha mais voto quem promete asfalto e não novos parques ou praças. E quem vota assim pensa que carros, e não pessoas se divertindo, trazem vida aos espaços públicos. Por aqui, as pessoas clamam por árvores, mas todo inverno realizam as podas irresponsável nelas. Por aqui as pessoas querem mais verde, mas quando se propõe um parque para um bairro, ele fica distante e ninguém usa. Por aqui, as pessoas dizem que não têm bandido de estimação, mas não foram às ruas – como outrora – protestar ‘contra tudo o que está aí, o conjunto da obra’.
Lazer não é só viajar, ele precisa ser possibilitado e vivido aqui (ainda que valorizemos os calçadões de outros lugares e o nosso não). Apesar das reformas temerárias avançarem a passos largos no Congresso Nacional, o lazer não deve ser pensado tão somente como um contraponto ao trabalho, é uma expressão humana, ora individual, ora coletiva. Porque a vida não se resume em trabalhar para consumir, dormir para trabalhar e consumir para existir.

Regina Miliorança


VIDA E ESPAÇO

“Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...”

Comi muito hoje.
Talvez por me fazer feliz!
Talvez porque estava ansioso!
Talvez porque alguém me diz:
que comi porque trabalhei,
duramente, incessante, cansei,
e que dormir me faz aprendiz.

Se a vida é um trepidante círculo
de trabalhar, consumir e dormir,
o que nos resta pra pensar
sobre mim, tu e sentir?
Como criar com o ócio,
sem que tudo seja um negócio
de ganhar, gastar e sucumbir?

Os distantes discursos e práticas
sobre ambiente, trabalho e alegria,
tornam-se muito mais frequentes,
tendo teimosa companhia.
Aquela de pura falácia
misturada com fina audácia:
que, sem atitude, é triste ironia.

Me pergunto agora:
o que dá vida aos espaços?
Verdejantes campos e parques?
Ou asfalto para desfile de carros?
Atentemos:
Lazer é expressão humana
individual, coletiva e soberana
que reúne nossos tantos pedaços.

Fabio Soares




Publicados em 05 de julho na Coluna Pimenteiro do Diário Data X

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