No dia 22 de junho deste ano nosso país
vizinho aprovou o impeachment do (ex) Presidente paraguaio Fernando Lugo, sob a
acusação de ser responsável pelas 17 mortes ocorridas durante o enfrentamento
entre camponeses e forças de segurança na cidade de Curuguaty, a 259
quilômetros da fronteira com o Brasil. A matança, segundo especialistas,
tratou-se de um pretexto para que grupos da oposição do Congresso Paraguaio
entrassem em ação contra o Presidente.
Com base neste fato, e com incríveis 39
votos a favor, quatro contra e duas abstenções, o senado paraguaio
“eficazmente” conduziu e aprovou o processo de impeachment em pouco mais de 24
horas! Sim, para os inimigos de Lugo pouco mais de um dia é tempo mais do que
necessário para realizar seu julgamento político.
Muitos criticaram a forma pela qual fora
conduzido o processo, afirmando se tratar de uma ameaça à democracia paraguaia.
Em contrapartida, outros argumentaram que o processo de impeachment foi pautado
nos princípios constitucionais, não havendo que se falar em ilegalidade,
tampouco em golpe.
Ora, necessário salientar que seguir os
ditames legais não significa dizer que o processo foi ético e muito menos
democrático. Abaixo explico o porquê.
A título exemplificativo, a história
paraguaia de julgamentos políticos de presidentes elucida que no ano de 1928, o
presidente José Guggiari teve três meses para se defender, mais recentemente no
ano 2003, Gonzáles Macchi teve três semanas para apresentar sua defesa. Já o
Lugo [...] Bom, Lugo teve duas horas defender-se.
Pergunta-se, tal procedimento foi legal? Sim,
pois a lei paraguaia determina que o tempo mínimo para que a defesa seja
apresentada em um processo de impeachment foi exatamente o concedido, ou seja,
duas horas. Mas, por outro lado, pergunta-se: O tempo concedido para Lugo
defender-se foi ético? Foi democrático? O fato de os parlamentares não terem
concedido tempo suficiente que Lugo necessitava para apresentar sua defesa,
poder-se-ia chamar de impeachment ou de um atroz golpe?
Quiçá a decisão extremamente rápida dos
parlamentares paraguaios já esteja causando inúmeras consequências, devido ao
fato de os países Sul Americanos não terem reconhecido o governo do novo
Presidente Federico Franco, e tomado entre outras medidas, o isolamento do
Paraguai das reuniões do Mercosul e da Unasul; tal isolamento acabou por gerar
um crise política e econômica no país.
Após o desenrolar dos fatos, o presidente
deposto declarou que alguns parlamentares procuraram-no preocupados com as
consequências da decisão tomada, mas agora a pergunta que permanece é a
seguinte: como os paraguaios irão convencer os países latinos que o processo
não se tratou de um golpe e como conseguirão resistir o isolamento até as
próximas eleições em abril de 2013?
Júlia Dambrós Marçal - GEDIS