quarta-feira, 19 de junho de 2013

A direita é apartidária e não anda de ônibus!



Os rumos deste fantástico movimento de protesto que varre o país começam a pender para a direita. No impulso dos protestos populares, movimentos nefastos tendem a querer pegar carona, visando fortalecer políticos que só agora, devido a ameaça do ostracismo, tornaram-se arautos da moralidade pública, inserindo bandeiras que não beneficiam a população, tas quais a do “Acorda Brasil” e algumas que querem diminuir os impostos dos mais ricos.
O espírito destas manifestações é contra a apropriação de bens públicos por empresas privadas através da COPA, mas é ainda a luta por cidades melhores para os pobres em seu direito de ir-e-vir, luta expressa no movimento passe-livre. Um aspecto interessante é a luta contra a mentira das grandes empresas de comunicação (que maravilha a violência contra a Globo! Verdadeiro ato de legítima defesa política!). Portanto, cuidado com os aproveitadores, especialmente aqui em Santa Catarina, onde há poucos dias aconteceu a greve dos profissionais do transporte em Florianópolis e a imprensa e a opinião pública ficou a favor das empresas de transporte e do prefeito. Por que em Florianópolis ninguém foi às ruas na semana passada? Por que não manifestações contra RBS e RIC?
Este é um movimento novo livre de partidos e de instituições velhas, mas não é livre de ideologias, por isso, os manifestantes devem lembrar que Pior do que está pode ficar. É preciso lutar pelos direitos dos pobres.
E cuidado: se você está nas ruas e não sabe o que quer, a direita sabe!
           

Samuel Mânica Radaelli - GEDIS

2 comentários:

  1. Acho estranho a polarização efetivada no artigo como se a direita realmente estivesse no poder do nosso país. é bom lembrar que o poder está nas mãos de governo se "auto-dizente" socialista de inspiração esquerdista já faz quase uma década... Engraçado que em épocas passadas os que agora detém o poder se enfileiravam nas mesmas manifestações populares para exigir mudanças e aos poucos foram cooptando os anseios populares... tão logo assumiram as cátedras dos poderes instituídos negaram as origens e hoje perguntam o por que das vaias... não seriam as manifestações justamente um grito contido de um povo que apostou na esquerda e que por se agarrar ao projeto da mais valia negou suas lutas e hoje se defende instalados na fonte da riqueza que outrora tanto combatiam em nome dos pobres???

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  2. O fato do partido que há mais de uma década ocupa o poder executivo federal ter em sua origem inspiração no socialismo não significa (embora deveria) que rompeu com as estruturas do capitalismo. Ao contrário, é possível afirmar que muitos dos seus quadros foram cooptados pelo capital. Isso não novo, Rosa Luxemburgo já advertira sobre isso em “Socialismo ou Barbárie”. Contudo, isso não significa que a esquerda foi cooptada, mas que a vigilância é uma obrigação. A esquerda vive em cada um que sonha com relações sociais justas e dignas.
    O que já é perceptível nas manifestações que hodiernamente varrem o Brasil é que há uma clivagem no momento em que a grande mídia “comprou a briga”. Em um primeiro momento a crítica estava voltada às empresas privadas que enriquecem explorando o transporte ‘público’, contra as empreiteiras e os consórcios privados que administram obras públicas visando lucro sem oferecer contrapartida social. Portanto, embora o governo federal tenha seu berço em um partido de esquerda (que, por sua vez, não representa toda a esquerda nacional), era contra as mazelas do capitalismo que a massa foi às ruas. Os reclames eram para um Estado mais forte, menos vulnerável ao capital privado (isso está acontecendo na Europa,como demonstram as manifestações contra as políticas de austeridade que tem por objetivo salvar bancos e conglomerados privados em detrimento dos interesses da população pobre).
    Diante do crescimento das manifestações, a grande mídia (neutra, imparcial, preocupada unicamente em noticiar a verdade...) muda seu discurso, até o tratamento aos participantes das manifestações muda: de pequeno grupo que tranca o trânsito passam a manifestantes, ativistas (o que está correto, mas o interessante é se perguntar por que a mudança no discurso?). Nesse momento a direita (que realmente não está organizada em um partido – está até disposta a amputar um de seus membros, o PSDB,para não perder a carona – insere nas manifestações as suas bandeiras genéricas, cujo objetivo é fazer com que os objetivos iniciais se percam na neblina causada: combate à corrupção, abaixo os impostos, saudades dos velhos tempos... até a defesa da redução da maioridade penal e da família tradicional já apareceram. A inserção dessas bandeiras está transformando esse autêntico movimento em uma Marcha da Família com Deus pela Liberdade. O objetivo é claro: evitar avanços nas questões sociais e manter intocado os interesses do capital privado, alvo primeiro dessas manifestações.
    Em seu texto o professor Samuel efetivamente não se preocupa em ser um observador neutro, assumindo assim um ar acizentadamente imparcial, o que não significa que se afastou de uma posição rigorosamente ética. A ética que se sabe traída no comportamento (falso)moralista. A ética que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de classe e na inserção de bandeiras que aparentemente interessam ao cidadão pobre, mas que representam interesses de grupos privados parasitas. Seguindo os passos de Paulo Freire, mantém presente a crítica à malvadez neoliberal, à sua cínica ideologia fatalista e à sua recusa inflexível ao sonho e à utopia. Manter vivo o sonho e a utopia não significa uma atitude inocente, um devaneio de sonhador inveterado, mas sim entender-se como uma presença consciente no mundo, não perder seu endereço na História.

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