“Quando você fala em corrupção, o
que lhe vem à cabeça?... plim!” Algo assim integrava o material de Aécio da
campanha das eleições de 2014.
A campanha é genial. Contudo, observem:
a sugestão só é possível porque a idéia de que o PT é o único partido corrupto
do Brasil (ou talvez “o mais” corrupto) foi implantada com sucesso. Os caras
perceberam que, da mesma forma que quando a Radija dizia “inxalá” na novela as
pessoas iam às lojas comprar produtos indo-árabicos, essas mesmas pessoas
também comprariam a ideia do antipetismo como moda se houvesse um esforço
tendencioso por parte da grande mídia.
Observem que curioso: no ranking
de partidos corruptos do Tribunal Superior Eleitoral, o PT está longe do
primeiro colocado (p.s.: quem falar que o judiciário é vendido do PT sem dúvida
não conhece o perfil do pessoal que trabalha dentro do fórum – e olha que eu
trabalho lá!). Mesmo assim, o PT é sempre o único a ser ligado diretamente à
corrupção.
Essa sugestão (“PT = corrupção”) vem
sendo paulatinamente repetida na mídia e, por meio da repetição, tornou-se
verdade. O efeito colateral é o surgimento de um falso discurso contra a
corrupção, um discurso ideologicamente voltado apenas contra o PT.
Prezados leitores, atenção: não
estou defendendo o PT. Estou apenas tentando lhes mostrar um fenômeno que, na
minha opinião, é um obstáculo na luta contra a corrupção.
Percebo que esse falso discurso
da corrupção está sendo encampado por aqueles sujeitos que (dizem) irão às ruas
dia 15 de março. Todavia, ao que se vê de suas manifestações, esses sujeitos
não estão nem um pouco preocupados com a questão real da corrupção. Se o estivessem, certamente não sairiam contra
um único partido (pois eles sabem muito bem que há muitos partidos corruptos no
Brasil) – pelo contrário: se esforçariam para que as pilantragens de todos os partidos fossem investigadas,
mesmo aquelas encobertas pela grande mídia. Todavia, nenhuma bandeira
denunciando o mensalão tucano, nenhuma bandeira sobre o trensalão etc etc etc.
Ao contrário do que querem fazer
crer, esse 15 de março não é apartidário, porque possui uma ideologia: um dos
sentidos de ideologia é aquilo que oculta alguma coisa da realidade em nome de
uma ideia coletiva. No caso, oculta-se a corrupção dos outros partidos
colocando a corrupção do PT em evidência.
Na verdade, esses indivíduos buscam
apenas algo para ir contra o PT, e usam a corrupção porque sabem que não podem
revelar o que realmente lhes causa desconforto: a ascensão de muita gente
pobre, as possibilidades cada vez mais equiparadas, o fato de que os filhos da
antiga classe média precisam disputar com alguém mais do que somente entre si.
O curioso é que muitos antigos pobres compraram esse discurso: isso aconteceu
porque eles ascenderam socialmente e passaram a transitar pelos mesmos círculos
que a antiga classe média, absorvendo dela esse ódio irracional anti PT. O
resultado: as fileiras antipetistas aumentaram, e contam inclusive com os
antigos pobretões.
Ao contrário do que se prega por
aí, o antipetismo é um obstáculo na luta contra a corrupção. Por detrás das
reivindicações antipetistas, os demais partidos conseguem articular seus
contatos com muito mais conforto, afinal sabem que não levarão a culpa (que
será atribuída toda ao PT).
Estou do lado daqueles que lutam
contra a corrupção. Se ficar comprovado que o PT agiu de forma corrupta, estou
do lado daqueles que pedem a respectiva punição. Da mesma forma o faço com
todos os outros partidos. Todavia, não sou tão inocente (ou cínico) quanto
essas pessoas que pregam o impeachment como uma forma de avançar contra a
corrupção.
Corrupção é endêmica. Enquanto
não houver reforma política séria, a corrupção continuará movendo o país.
Estranho que o 15 de março não inclua nada além de impeachment e verborragia na
luta contra a corrupção. Bradam um discurso pouco efetivo em termos práticos,
mas muito bem arquitetado em termos políticos.
Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis
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