segunda-feira, 1 de julho de 2013

A direita no armário



"Agora, nega também a diferença entre esquerda e
direita, sustentando uma 'ordem política' em que não
se pode levantar bandeiras nem defender ideias. Assim,
dá um caráter natural aos seus interesses, no intuito de
que o pobre vá às ruas para defender o rico."

A direita brasileira tem causado espanto por sua preocupação em enrustir-se, negando justamente a diferença entre esquerda e direita. Ao negar essa diferença não assume, de forma franca, a sua prática e a dos seus militantes. Percebe-se que a direita brasileira sucessivamente vem negando, também, uma série de outras diferenças, nesta ordem: 1) entre ricos e pobres; 2) entre patrões e empregados; 3) entre brancos, negros e índios; 4) entre homem e mulher.
Agora, nega também a diferença entre esquerda e direita, sustentando uma “ordem política” em que não se pode levantar bandeiras nem defender ideias. Assim, dá um caráter natural aos seus interesses, no intuito de que o pobre vá às ruas para defender o rico.
Essa atuação camaleônica visa universalizar seus interesses, criando um jogo de subalternidade e imitação à medida que estabelece sua ordem como autêntica, afirmando que todos os que são bons podem atingir o poder econômico e político e por isso todos devem defendê-la; por conta disso tem-se a figura patética do sujeito que ganha R$ 10mil por mês e se sente sócio do Bill Gates, e por tal razão pensa em defender interesses comuns a ambos.
É preciso prevenção em relação ao neoconservadorismo expresso na atitude de criticar todos os políticos e votar sempre nos mesmos.
A atitude dissimuladora das forças conservadoras no Brasil pode revelar aspectos positivos como a fragilidade argumentativa na defesa de suas posições, contudo, embora o fato de que majoritariamente existe constrangimento em admitir pertencer à direita – o que reflete a pouca credibilidade do conservadorismo –, isso não é devido ao esgotamento de sua posição social.
Diante do desgaste de sua imagem a direita muda de “rótulo”, buscando possibilitar que seus agentes públicos possam atuar advogando interesses burgueses sob o manto da imparcialidade política, como forma de ocultar e absolver sua prática. A burguesia se sustenta porque consegue universalizar seus valores: para isso, não possui apegos identidários, praticando a reinvenção constante de sua imagem.
A direita está no armário. O problema é que ela se “transveste” da democracia e da neutralidade política.

Samuel Mânica Radaelli – GEDIS

Nenhum comentário:

Postar um comentário