A direita brasileira tem causado
espanto por sua preocupação em enrustir-se, negando justamente a diferença
entre esquerda e direita. Ao negar essa diferença não assume, de forma franca,
a sua prática e a dos seus militantes. Percebe-se que a direita brasileira
sucessivamente vem negando, também, uma série de outras diferenças, nesta ordem:
1) entre ricos e pobres; 2) entre patrões e empregados; 3) entre brancos, negros
e índios; 4) entre homem e mulher.
Agora, nega também a diferença entre
esquerda e direita, sustentando uma “ordem política” em que não se pode levantar
bandeiras nem defender ideias. Assim, dá um caráter natural aos seus interesses,
no intuito de que o pobre vá às ruas para defender o rico.
Essa atuação camaleônica visa
universalizar seus interesses, criando um jogo de subalternidade e imitação à
medida que estabelece sua ordem como autêntica, afirmando que todos os que são
bons podem atingir o poder econômico e político e por isso todos devem
defendê-la; por conta disso tem-se a figura patética do sujeito que ganha R$
10mil por mês e se sente sócio do Bill Gates, e por tal razão pensa em defender
interesses comuns a ambos.
É preciso prevenção em relação ao
neoconservadorismo expresso na atitude de criticar todos os políticos e votar
sempre nos mesmos.
A atitude dissimuladora das forças conservadoras
no Brasil pode revelar aspectos positivos como a fragilidade argumentativa na
defesa de suas posições, contudo, embora o fato de que majoritariamente existe
constrangimento em admitir pertencer à direita – o que reflete a pouca
credibilidade do conservadorismo –, isso não é devido ao esgotamento de sua
posição social.
Diante do desgaste de sua imagem a
direita muda de “rótulo”, buscando possibilitar que seus agentes públicos
possam atuar advogando interesses burgueses sob o manto da imparcialidade
política, como forma de ocultar e absolver sua prática. A burguesia se sustenta
porque consegue universalizar seus valores: para isso, não possui apegos
identidários, praticando a reinvenção constante de sua imagem.
A direita está no armário. O problema
é que ela se “transveste” da democracia e da neutralidade política.
Samuel Mânica Radaelli – GEDIS
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