domingo, 24 de agosto de 2014

Nova série de contos do professor Eduardo

Dos intestinos do Sistema Prisional é defecado, com quase toda certeza, um dos mais representativos modelos desse especial cosmos da sociedade brasileira: o condenado, o sentenciado e o também, eufemisticamente, denominado reenducando: “Vinte Conto”. 
Criminoso por opção social, o personagem para o qual serão apresentados é um produto quase pronto do resultado de longo e profícuo aprendizado nas masmorras pátrias. 
Ser dotada de inigualável sensibilidade e elevada inteligência emocional mostrará a inesgotável criatividade humana e certamente sensibilizará a todos que, de qualquer forma, com ele se relacionarão a partir da leitura de sua história de vida que será apreciada, como num reality show, através de uma série de contos. quinzenalmente publicados neste blog.

Eduardo Pianalto de Azevedo

Veja em: http://grupogedis.blogspot.com.br/p/contos-do-prof-eduardo.html 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Bandido mata cidadão

Concordo: bandido mata cidadão. E bandido merece apanhar, sofrer, padecer na prisão por longos anos – de preferência, que a prisão seja suja, superlotada, fria, de forma a fazer com que o bandido pague com seu sangue o sofrimento social por ele causado...

...e é justamente por isso que bandido mata cidadão.

Quando usamos a expressão “bandido” (ou “vagabundo” ou demais atributos análogos) para qualificar uma pessoa, automaticamente matamos um cidadão: o qualificado passa de sujeito de direitos a sujeito de punições. Simplificando: ele deixa de ser um integrante da sociedade (um cidadão) para fazer parte de um rol de “bandidos” que não devem ter direitos, apenas deveres e sofrimentos. Por isso reitero: “bandido” mata “cidadão”.

O bandido e o cidadão não podem ser a mesma pessoa, muito embora, na realidade, o são. Se alguém cometeu um erro ou foi acusado da prática de um crime (em geral aqueles condenados pela mídia), entra em cena um estado de exceção para essa pessoa: torna-se uma vergonha até para o advogado defendê-lo (muito embora seja exatamente essa a função do defensor penal), que dirá para o juiz deixar de concordar com a mídia e absolver o pré-condenado. Um disparate.

É importante lembrar às pessoas que vivemos em uma democracia, e isso quer dizer, inclusive, que todos têm seus direitos previamente fixados por uma lei votada por representantes eleitos pelo sufrágio popular. Todos. É justamente por isso que a legislação prevê inclusive sanções para aqueles que praticarem atos ilícitos. Não dá para punir de qualquer jeito.

Assim, é importante que as pessoas reflitam sobre os efeitos do uso da linguagem: quando afirmamos que alguém é “bandido”, inconscientemente somos levados a esquecer que se trata na verdade de um cidadão que fez algo contrário à lei. Esquecemos do cidadão quando lembramos do “bandido”: uma coisa não coexiste com a outra. Assim, nós matamos o cidadão quando o chamamos de “bandido”.

E voltamos assim à máxima: “bandido” mata “cidadão”.

Atuemos nós também no fortalecimento da democracia, ampliando o conceito de cidadania e possibilitando, então, um debate mais racional sobre a sociedade. Nossas palavras matam, esquartejam, segregam, aniquilam. Será que você, que se diz “cidadão de bem”, sem saber não está matando cidadãos e fazendo nascer bandidos?



Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A mulher não se respeita

É verdade: existe muita mulher por aí que não se respeita. Não respeita seu corpo, sua liberdade, não se valoriza. Citemos aqui, portanto, alguns exemplos dessa espécie.

Mulher que não se respeita:
1.       Reprime seus desejos sexuais mais sinceros e saudáveis em nome do “pudor”;

2.       Critica outras mulheres em razão da roupa estão usando;

3.       Pensa que usar roupas provocantes é um estímulo ao estupro;

4.       Não denuncia seu agressor quando vítima de violência;

5.       Contenta-se em afirmar que “homem é tudo igual”;

6.       Priva-se do orgasmo e da masturbação para não parecer depravada;

7.       Difama outras mulheres que têm vários parceiros (ou porque “deram na primeira vez”);

8.       Afirma de forma complacente que é mulher e, portanto, “tem que se cuidar” (esquecendo que é o homem quem tem que respeitar a mulher incondicionalmente, independente da roupa que ela está usando e da forma como ela se comporta);

9.       Insiste em utilizar “xingamentos sexuais” para depreciar outras mulheres;

10.   Cuida mais do comportamento de outras mulheres do que do seu próprio (isso também vale para homens, é claro);

Mulher que não se respeita é mais machista do que os homens: quando uma mulher de minissaia é estuprada, afirma que “ela estava pedindo”; quando um vídeo íntimo é divulgado na internet sem a autorização da mulher, “é porque ela não se dava o respeito e assumiu o risco de ter seu vídeo divulgado”.
 
Agindo dessa forma, as práticas torpes do machismo acabam sendo justificadas. Criticando a conduta sexual da mulher, acabamos deixando o machismo apenas no pano de fundo do debate – sem, contudo, que ele deixe de estar lá, influenciando a conduta das pessoas.

Ora, se o mundo é machista, nada mais sensato que a mulher se cuide e não o homem aprenda a respeitar a mulher de forma incondicional. Nada mais óbvio, em um mundo machista, que a mulher seja condenada a esconder e lutar contra seus desejos sexuais, sustentando uma imagem hipócrita de proba imaculada. Ai do homem que se atrever a agir dessa forma (tentando ser o “probo imaculado”): chamá-lo-ão “mulherzinha”, “fraco”, “inocente”, “homossexual” e por aí vai.

Por incrível que pareça, não só homens, mas também mulheres assumem práticas machistas. O machismo, hoje, migrou para um lugar oculto do debate social: da mesma forma que o racismo, é feio falar frases machistas em público, mas agir tal qual ainda é a regra.

As mulheres conquistaram muitos direitos e atualmente ocupam espaços sociais privilegiados: trata-se de algo impensável há não muito tempo. Atualmente, segundo a Constituição do Brasil, “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. É necessário, contudo, que essa liberdade tome forma real. Para tanto, imprescindível que as pessoas se conscientizem do machismo que ainda lastreia nossas ações, possibilitando uma guinada em favor da igualdade real entre homens e mulheres.



Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis