SUBMISSÃO
OU SUBVERSÃO?*
Notícias de feminicídios
decorrentes da misoginia, machismo e cultura do estupro surgem o tempo todo.
Informações que, de tão absurdas, parecem distantes da nossa realidade. E os
casos daqui, da nossa região? Quantas mulheres sofrem em silêncio, vítimas de
violência física, sexual e/ou psicológica? Quem não passou por isso, certamente
conhece alguém que sim. Nas rodas de amigos, quando alguém faz um comentário
machista, qual a reação das pessoas ali presentes? Qual a tua reação?
O machismo é reproduzido
diariamente por pessoas de diferentes gêneros, idades, classes sociais e ideologias
políticas, camuflado em piadas, opiniões, atitudes e convicções patriarcais.
Interfere negativamente na vida dos homens também, que desde crianças aprendem
a reprimir a vaidade, o afeto, o choro. São pressionados a demonstrar força,
sucesso profissional e financeiro, manter o papel de ‘provedor’. Alguns
descuidam da própria saúde para não por a ‘masculinidade’ em xeque.
Historicamente, o
feminismo almeja um novo cenário social, em que a mulher sinta-se livre para
decidir sua própria vida. Casar ou não, ter filhos ou não, ‘ser bela, recatada
e do lar’ ou não, até mesmo considerar-se ou não feminista, desde que sejam
escolhas dela. “Ah, as mulheres reclamam por direitos iguais e se aposentam
cinco anos antes, pagam menos para entrar na balada e não são submetidas ao
alistamento militar obrigatório.” Sobre essas afirmações contínuas e parvas,
consideremos: 1) Muitas mulheres passaram uma vida recebendo salários mais
baixos na profissão (comparado ao mesmo tipo de trabalho realizado pelo homem)
e, com dupla jornada de trabalho. A conquista deste direito é uma questão de
equidade. 2) Quanto ao ingresso da balada, não parece assustadoramente absurdo
que mulheres sirvam de iscas para atrair homens para esses lugares? 3) Por que
os homens não lutam para que o alistamento militar não seja mais obrigatório,
ao invés de sugerir que isso se estenda às mulheres?
“Eu mesma nunca cheguei a
entender direito o que quer dizer feminismo, só sei que as pessoas me chamam de
feminista toda vez que expresso sentimentos que me diferenciam de um capacho”
(Rebecca West, 1913). Se concordas que mulheres e homens precisam ter os mesmos
direitos, que a mulher deve sentir-se livre para fazer suas escolhas... Se
também pensas que toda mulher merece ser tratada como ser humano, tu és
feminista.
Beatriz Soares - Professora
DÓI,
UM TAPINHA NÃO DÓI*
“Vai glamurosa,
cruza os braços no
ombrinho
empina bem tua
bundinha
que eu te pego
gostosinho”
Em todo lugar,
de diferentes
formas
vemos e sentimos
um olhar
que violenta em
amostras
bem grande, por
sinal,
desvelando o
desigual
mundo fálico de
anedotas.
Aí vem uma mulher,
homem, jovem ou
idosa
tentar te abrir os
olhos
que só enxergam
espetaculosa
misoginia,
violência e machismo
em cenário de
anaforismo
a pensar que só
isso importa.
Nos chamam de
subversiva
anarquista,
sapatão, feminista.
E só pensam que
esses termos
criam em nós,
expectativa
de ofensa e vã
transformação
rendendo-nos ao
viril machão
que pensa ter
prerrogativa.
Ah! Como somos
feministas,
sem perceber, e
sem que percebamos.
Almejamos equidade
à diferença,
conquista de
direitos e outros tantos
definindo como
queremos viver,
gozar, nos
entreter e conhecer
um novo mundo de
encantos.
* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Jornal Diário Data X de 24 de fevereiro de 2017.
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