quarta-feira, 1 de março de 2017


SUBMISSÃO OU SUBVERSÃO?*

Notícias de feminicídios decorrentes da misoginia, machismo e cultura do estupro surgem o tempo todo. Informações que, de tão absurdas, parecem distantes da nossa realidade. E os casos daqui, da nossa região? Quantas mulheres sofrem em silêncio, vítimas de violência física, sexual e/ou psicológica? Quem não passou por isso, certamente conhece alguém que sim. Nas rodas de amigos, quando alguém faz um comentário machista, qual a reação das pessoas ali presentes? Qual a tua reação?
O machismo é reproduzido diariamente por pessoas de diferentes gêneros, idades, classes sociais e ideologias políticas, camuflado em piadas, opiniões, atitudes e convicções patriarcais. Interfere negativamente na vida dos homens também, que desde crianças aprendem a reprimir a vaidade, o afeto, o choro. São pressionados a demonstrar força, sucesso profissional e financeiro, manter o papel de ‘provedor’. Alguns descuidam da própria saúde para não por a ‘masculinidade’ em xeque.
Historicamente, o feminismo almeja um novo cenário social, em que a mulher sinta-se livre para decidir sua própria vida. Casar ou não, ter filhos ou não, ‘ser bela, recatada e do lar’ ou não, até mesmo considerar-se ou não feminista, desde que sejam escolhas dela. “Ah, as mulheres reclamam por direitos iguais e se aposentam cinco anos antes, pagam menos para entrar na balada e não são submetidas ao alistamento militar obrigatório.” Sobre essas afirmações contínuas e parvas, consideremos: 1) Muitas mulheres passaram uma vida recebendo salários mais baixos na profissão (comparado ao mesmo tipo de trabalho realizado pelo homem) e, com dupla jornada de trabalho. A conquista deste direito é uma questão de equidade. 2) Quanto ao ingresso da balada, não parece assustadoramente absurdo que mulheres sirvam de iscas para atrair homens para esses lugares? 3) Por que os homens não lutam para que o alistamento militar não seja mais obrigatório, ao invés de sugerir que isso se estenda às mulheres?
“Eu mesma nunca cheguei a entender direito o que quer dizer feminismo, só sei que as pessoas me chamam de feminista toda vez que expresso sentimentos que me diferenciam de um capacho” (Rebecca West, 1913). Se concordas que mulheres e homens precisam ter os mesmos direitos, que a mulher deve sentir-se livre para fazer suas escolhas... Se também pensas que toda mulher merece ser tratada como ser humano, tu és feminista.

Beatriz Soares - Professora


DÓI, UM TAPINHA NÃO DÓI*

“Vai glamurosa,
cruza os braços no ombrinho
empina bem tua bundinha
que eu te pego gostosinho”

Em todo lugar,
de diferentes formas
vemos e sentimos um olhar
que violenta em amostras
bem grande, por sinal,
desvelando o desigual
mundo fálico de anedotas.

Aí vem uma mulher,
homem, jovem ou idosa
tentar te abrir os olhos
que só enxergam espetaculosa
misoginia, violência e machismo
em cenário de anaforismo
a pensar que só isso importa.

Nos chamam de subversiva
anarquista, sapatão, feminista.
E só pensam que esses termos
criam em nós, expectativa
de ofensa e vã transformação
rendendo-nos ao viril machão
que pensa ter prerrogativa.

Ah! Como somos feministas,
sem perceber, e sem que percebamos.
Almejamos equidade à diferença,
conquista de direitos e outros tantos
definindo como queremos viver,
gozar, nos entreter e conhecer
um novo mundo de encantos.

Fábio Soares. Professor e Mestre em Comunicação

* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Jornal Diário Data X de 24 de fevereiro de 2017.

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