A memória é fraca.
De exceção em exceção... |
Não faz um século que o mundo ocidental instituiu os direitos humanos. São garantias humanas, logo, são de todos aqueles que detém a qualidade de ser humano. Servem para vilões e mocinhos, bandidos e vítimas. Foram criados após a Segunda Guerra Mundial, por uma humanidade perplexa diante dos abusos que o poder sem limites poderia praticar. A finalidade de sua criação: preservar o mínimo de dignidade a todas as pessoas. Todas as pessoas. Sem exceção.
Acontece que o tempo vai passando, os corvos comem as migalhas espalhadas pelo chão e não lembramos do caminho de volta. Mudam as circunstâncias e chegamos ao ponto de pensar que exceções são necessárias.
É, porque hoje em dia direitos humanos não mais nos servem... melhor dizendo, servem apenas para alguns. Certos seres humanos não devem ter direitos humanos... melhor dizendo: alguns nem sequer são seres humanos, são monstros! Bandidos! Estupradores! Assassinos! etc etc. E para essa corja não há direito que lhe seja mais cabível do que a morte, e de preferência uma morte bem sofrida e dolorosa.
Exceções são necessárias porque o processo é muito demorado. Aí, é preciso relativizar a presunção de inocência (“inocente até prova em contrário”) para em tese compensar esse “sentimento de impunidade” da população. Portanto, em alguns casos, mas somente em alguns, o sujeito é culpado até provar ser inocente.
Exceções são necessárias àquele que sonega impostos, pois na verdade está apenas “se defendendo da tributação excessiva”. Agora, o político corrupto, esse deveria ser enforcado! Ele está desviando dinheiro público para fins privados!
Exceções são necessárias quando nosso candidato não vence as eleições e precisamos a todo custo derrubar o vencedor. Aí inventamos as maiores gambiarras jurídicas para embasar formalmente qualquer coisa que sirva para o impeachment. Queremos derrubar aqueles que não desejamos fossem eleitos, afinal, representamos a voz do povo! (Um povo que, no dia das eleições, votou majoritariamente para o candidato que agora o povo, supostamente, quer derrubar.)
Exceções são necessárias no direito à vida daqueles que chamamos bandidos. Execuções sumárias por policiais são até saudáveis. Prisões arbitrárias, chacinas, são apenas formas de defesa. Afinal, alguém precisa fazer a mesma coisa que fazem os bandidos: matar.
Assim, de exceção em exceção, perdemos o caminho de volta. Esquecemos a história.
De exceção em exceção vamos construindo esse ambiente conflituoso de ódio e medo, de uns contra os outros, de nós contra eles. E todos saem perdendo nessa briga: aqueles que se trancam em suas casas, aqueles que são trancados nas cadeias e aqueles que sentem medo ao andar na rua.
A coisa chegou ao ponto de sermos classificados pela roupa que vestimos, pelo jeito que falamos, pela cor da nossa pele, pela nossa aparência física!
Nesse rumo, estamos perdendo direitos que foram instituídos justamente em razão de toda a dor causada pela batalha de homens contra homens.
Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis