A violência perpetrada contra os professores
paranaenses, semana passada, foi uma amostra de um Poder Público incapaz de
apresentar soluções cidadãs a demandas justas. O cacetete serve para preencher
o vácuo deixado por essa incapacidade, de forma que o Estado consiga se
proteger e manter-se vivo em meio à crise de legitimidade.
Mas afinal, o que é legitimidade?
A legitimidade é uma forma de substituir a força no
exercício do poder. Legitimidade é mais ou menos um "convencimento".
Quando o sistema é legítimo, não se necessita da força bruta para convencer as
pessoas de que uma determinada ordem é correta e deve ser obedecida. As pessoas
de regra cumprem a lei quando o sistema é legítimo, porque elas acreditam no
sistema e têm razões para acreditar. Ao contrário, quando o sistema é
ilegítimo, as pessoas estão mais insatisfeitas com a atuação do Poder Público e
desobedecerão mais. A atuação policial é um mecanismo pelo qual o Estado se
protege da desobediência, pois assim ele continua demonstrando para todos que
ele detém o poder, ou seja, que é ele quem faz as regras.
Em termos práticos, tudo isso significa: quanto mais
polícia, menos legítima a ordem vigente.
Portanto, quando se está diante de uma crise de
legitimidade, o Estado tem basicamente duas alternativas: 1) desenvolver
mecanismos para aumentar sua credibilidade perante os cidadãos; 2) aumentar seu
poder punitivo (este último caminho significa, em outras palavras, usar mais a
força bruta).
Caminho 1: para aumentar a credibilidade, o Estado
deverá criar meios para melhorar a qualidade de vida das pessoas, resolvendo
problemas substanciais da sociedade.
Caminho 2: para aumentar o poder punitivo, o Estado
precisará criar meios para utilizar mais a força bruta. Isso importa construir
cadeias, equipar policiais, ser mais leniente com a truculência, diminuir a
menoridade penal, criminalizar novas condutas etc.
É importante que a sociedade discuta com consciência
sobre qual é o melhor caminho a ser seguido. Afinal, nós, cidadãos, somos
aqueles que determinam se a ordem à qual estamos submetidos será legítima ou
não, e também somos nós que sofreremos as consequências relativas aos rumos de
nossa sociedade.
Na minha opinião, um Estado que não se preocupa com
as questões sociais e coletivas e foca suas ações na punição dos indivíduos
resultará num monstro violento que sem dúvida fará muitas vítimas - um dia
você, leitor, poderá ser uma delas. O punitivismo é um tiro no pé de todos os
cidadãos.
Agora, pare para observar a atuação policial em
nosso país. Pare para observar os projetos de leis cuja aprovação está em
marcha em nosso Legislativo. Em que rumo estamos caminhando? Quais serão as
consequências?
Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis
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