A onda de protestos iniciada pelo movimento passe
livre, visando melhorias no transporte – e que, devido, em parte, à repressão
do governo Paulista, ganhou projeção e tornou-se um movimento nacional – traz consigo
a reflexão sobre qual o rumo do próprio movimento, tendo em vista que o seu
efeito mimético fez com que vários anseios fossem projetados para as ruas.
Nesse mar de insatisfação e de questionamento do
poder o conservadorismo também põe as “mangas de fora”, com o apoio da mídia – desacreditada
por seu apoio inicial à repressão: ambos tentam dar outro rumo às manifestações,
direcionando-a para a vilania disfarçada das suas velhas pautas.
Suas atitudes são:
1) Tentativas de direcionar a manifestação para
pautas mais genéricas, como “contra a corrupção”, “por Brasil melhor”, ou tema
secundários como “PEC 37”;
2) Edição de imagens tentando aliviar para a Globo
e para a empresas de transportes;
3) Tentativas claras de se aproveitar disso para
fins eleitorais;
4) Inserir vândalos entre manifestantes, na mesma
linha os atos de destruição praticados pela própria polícia, os quais são ressaltados pela imprensa como feitos
pelos manifestantes;
5) Inclusão de temas que interessam, principalmente,
às elites.
Diante das manifestações regionais capitaneadas por
setores de uma burguesia aprendiz, é preciso perguntar: estão eles dispostos a
criticar os lucros das empresas de transporte em nome de um transporte coletivo
de qualidade?
Neste quadro é necessário precaução, lembrando a velha
máxima da política: “empresário não faz movimento popular, faz movimento
eleitoral”. Outra prática comum é pôr os empregados nas ruas para defender os
seus interesses disfarçados de reivindicação popular.
Samuel Mânica Radaelli - GEDIS