quinta-feira, 23 de julho de 2015

5 coisas que ultraconservadores não conseguem compreender

1) Defesa dos direitos humanos: “tá com dó leva o bandido para casa”, “bandido bom é bandido morto”, “você está defendendo bandido” são pérolas de tolice oferecidas gratuitamente àquele que ousar defender os direitos da pessoa acusada. O ultraconservador não consegue compreender que defender os direitos humanos, inclusive aqueles da pessoa acusada, não significa defender bandido. Quer dizer apenas que (ainda) desejamos que as regras do jogo sejam respeitadas, (ainda) acreditamos que a culpa deve ser provada e não a inocência, (ainda) cremos que todo ser humano deve ser tratado de forma digna, inclusive aquele que praticou os crimes mais cruéis. Não queremos que o Estado seja tão bandido quanto o bandido. Se desejássemos um Estado bandido não precisaríamos de lei. Quem defende os direitos humanos defende basicamente que todos devem observar a lei – inclusive o Estado (polícia, juiz, promotor etc).

2) Redução da maioridade penal: quem é contra a maioridade penal logo é taxado pelo ultraconservador de defensor de menor bandido. É bastante parecido com o que acontece com o defensor dos direitos humanos. O deputado Valdir Colatto chegou a afirmar que mandaria menores invadirem a casa do deputado Celso Maldaner porque este, em votação recente, votou contra a redução da maioridade penal. O ultraconservador chama aqueles contrários à redução de ingênuos porque pensa que eles acreditam que o adolescente de 16 anos não sabe o que faz. Não é isso, obviamente, mas o ultraconservador não entende que cadeia não é lugar de adolescente e, se passar a ser, a tendência é que pessoas ainda mais jovens sejam recrutadas à prática de crimes.

3) Casamento homossexual: o ultraconservador se autodenomina defensor da família. Sob essa bandeira, é veementemente contrário ao casamento de pessoas do mesmo sexo. O ultraconservador não entende que o casamento civil não tem nada a ver com o casamento religioso. Se entende isso, não consegue compreender que o casamento é um contrato de direito civil que serve para regular direitos das pessoas, principalmente para dar garantias às partes envolvidas. No Brasil, não é proibido que duas pessoas do mesmo sexo mantenham relações sexuais e compartilhem o mesmo lar. A proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo apenas priva pessoas do exercício de alguns direitos civis, prejudicando a todos e não, não ajuda em nada na “defesa da família”.

4) Liberdade de expressão: não é fácil debater com um ultraconservador. Se você retruca quando ele te critica, você está ofendendo a liberdade de expressão dele; se você o critica... você também está ofendendo a liberdade de expressão dele! A liberdade de expressão do ultraconservador é algo bastante peculiar, pois abrange apenas a liberdade para dizer tudo aquilo que lhe convém. Aquilo que não lhe convém, se é dito, é algo ofensivo à liberdade de expressão. Na verdade, ao final deste parágrafo, uma reflexão: talvez seja eu quem não entende o estranho e paradoxal direito à liberdade de expressão defendido pelo ultraconservador...

5) Democracia: o ultraconservador não compreende a democracia, ou tem uma compreensão bastante estranha dela. Ele acredita que democracia é a vontade da maioria. Bom, fosse simples assim, bastaria que a maioria da população aprovasse em plebiscito a eliminação da outra parcela do povo que estaria tudo certo. Bastaria que fosse aprovado pela maioria da população que algumas opiniões são proibidas, condenando à morte os insurgentes. O ultraconservador não percebe que isso tem outro nome: autoritarismo. Democracia é justamente o regime de governo que permite que uma pessoa possa opor seu direito a todas as demais, inclusive ao próprio Estado. Democracia é (também) direitos humanos, direitos das minorias, direitos da pessoa acusada etc. Não é qualquer coisa que está sujeita à votação em uma democracia. A maioria não pode tudo. Na democracia, o direito de uma pessoa é soberano, mesmo que todo o restante da população estivesse disposto a votar para aboli-lo. O ultraconservador não tem compleição intelectual para compreender isso.

P.s.: caso um ultraconservador consiga compreender os itens elencados acima, deve-se automaticamente transferi-lo à categoria de cínico.

Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis

domingo, 12 de julho de 2015

Os espíritas tinham razão

Sobre os recentes acontecimentos e o atual contexto político e social, uma conclusão: os espíritas tinham razão. Sim, porque é tanto atraso que só pode que tem gente que reencarnou. Só que ficou com a cabeça da vida passada.

Veja cinco exemplos:

1) “Casamento é entre homem e mulher”: essas pessoas sabem que são antiquadas. Sabem que estão atrasadas. Mas a conexão com a vida passada as impede de transcender. Ficaram lá, no século passado, defendendo que permitindo o casamento homossexual a sociedade vai acabar porque não haverá mais reprodução. Ou porque os valores serão perdidos. Valores de sua vida passada, só pode.

2) Redução da maioridade penal: pessoas cujas vidas passadas datam de antes de 1920, quando o Brasil estabeleceu a maioridade penal para evitar que adolescentes fossem abusados e estuprados na prisão. Todavia, agora é diferente. Agora o adolescente é violento, criminoso, bandido, monstro. Dizem: “joguem-nos nas masmorras, assim como jogaram os adolescentes que viveram no tempo da minha outra encarnação!”;

3) Defensores dos linchamentos: esses demoraram para reencarnar. Ficaram no limbo desde a idade média. Agora voltaram à vida carnal e defendem que “bandidos” sejam linchados sumariamente, amarrados em postes, ridicularizados. Ainda não se acostumaram com o monopólio da força pelo Estado, com os direitos humanos, a presunção de inocência e o devido processo legal. Resquícios de uma existência passada longínqua.

4) Rezar culto na Câmara dos Deputados: teve quem achasse bonito o culto que o Eduardo Cunha promoveu na Câmara dos Deputados. Sem dúvida são pessoas cujas vidas passadas existiram antes da Revolução Francesa, quando o poder político e o religioso ainda andavam de mãos dadas.

5) “Foi estuprada porque provocou”: são pessoas que ainda não superaram a antiga distinção entre “mulher honesta” e “mulher vadia”. Pensam da mesma forma como pensaram em suas vidas passadas: existem mulheres para casar e mulheres para usar. E as mulheres para usar, obviamente, tem menos direitos que as mulheres para casar. Não que as mulheres para casar tenham os mesmos direitos que os homens, claro! O pensamento antiquado dessas pessoas é hoje traduzido no seguinte raciocínio: “usou vestido curto, batom provocante e saiu caminhando pela noite por aí = pediu para ser estuprada”.

Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis