A implantação das câmeras de segurança em Xanxerê tem sido noticiada como uma iniciativa relevante em termos de segurança pública. O governo do Estado vai investir 220 mil reais nisso. Cabe refletir se essa medida pode ser considerada uma política pública adequada às necessidades da cidade de Xanxerê.
Toda política pública é implementada baseada em um estudo que retrate com indicadores a sua necessidade e os resultados que ela pode alcançar. No caso da implantação das câmaras, a promessa é combater a criminalidade no centro da cidade, pergunta-se: em quanto se dará a redução pretendida? Outra questão importante versa acerca da existência de um estudo prévio dedicado à análise da necessidade da adoção de tal medida: quem o fez, e quais foram os resultados obtidos?
Repetitivamente tem-se dito que a administração pública precisa ser pautada por critérios técnicos, ou seja, o exercício da atividade pública não é um ato oriundo apenas da vontade de quem tem o poder, o arbítrio dos mandatários precisa estar submetido a critérios científicos. Porém não foi apresentada à sociedade nenhuma explicação que aponte a necessidade de tal projeto. Ao invés disso, foram lançados diversos discursos que se resumem ao caráter tecnológico da medida.
Esses discursos aproveitam-se de um recalque caipira que tende a achar que toda novidade cibernética pode emprestar um pouco de sofisticação à vida de quem é reconhecido nas capitais como provinciano. As pessoas aderem a essa idéia não por entenderem que ela possa combater a “intensa” criminalidade existente no centro da cidade de Xanxerê, mas porque ela pode lhes dar um ar cosmopolita, algo do gênero “Xanxerê já tem câmeras de segurança, como Florianópolis, São Paulo e Nova Iorque”.
Isso permite ao ranso aristocrático local atenuar o sentimento de inferioridade em relação a pessoas menos ricas de cidades mais chiques. Assim, esse voyeurismo policialesco não parece tão ridículo e até camufla as questões psicanalíticas inerentes a ele.
Surge a notícia de que em Xaxim as câmeras estão ajudando a resolver um crime. Os defensores delas estão felizes, pois é a possibilidade de elas não serem absurdas e absolutamente inúteis, outros acham que, por esse fato, elas podem justificar o não aumento salarial dos investigadores da polícia civil.
A implantação das câmeras para a vigilância do centro da cidade, partindo de uma percepção técnica do funcionamento da administração pública, não é uma política de segurança pública, é apenas um ato de vontade de quem tem poder. Quanto àqueles que ambicionam um cosmopolitismo Xanxerense, melhor alternativa é a vinculação com a literatura, a cultura, a ciência e a arte produzidas nos grandes centros.
Alguém poderá dizer: “é o desperdício de ‘apenas’ 220 mil reais de dinheiro público”. Mais do que isso, o grande prejuízo é que são escamoteadas as principais questões a serem debatidas pela sociedade por meio de seus representantes. Estes, por sua vez, acabam desperdiçando sua atuação em temas que não redundam em benefícios coletivos relevantes.
Samuel Mânica Radaelli e Luis Henrique Kohl Camargo - GEDIS
Sem contar na localização das tais câmeras muito provavelmente ficarão em ruas do centro perto de grandes empresas com bom relacionamento com a administração publica. Quer realmente diminuir criminalidade? Vai pros Bairros.
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