Sexualidade é um dos interesses
mais debatidos (e desejados) pela humanidade. A questão é tão importante que
não raro vira símbolo social, sendo a prática sexual elevada à condição de
pilar de uma determinada cultura. O direito de família brasileiro, por exemplo,
é pacificamente considerado uma estrutura normativa voltada à normalização das
relações sexuais. Nesse pensar, ditar padrões de conduta sexuais significa
muito mais que “moralizar as coisas”: representa o desejo de perpetuar uma
determinada ordem, um sistema desejado, uma ideologia em que se crê.
Fim da “parte teórica”, vamos ao
debate.
É importante refletir acerca da
“condição sexual” da mulher em nossa sociedade. É necessário considerar de
forma mais sensível sobre se não seriam cruéis os padrões de conduta sexual que
construímos para a parcela feminina da população. A urgência de tal reflexão
torna-se ainda mais premente diante dos episódios trágicos desencadeados pela
torpe divulgação de vídeos íntimos (não autorizados pela parceira) na internet
(conduta que já foi apelidada de “pornografia de revanche”).
Há algum tempo vi uma entrevista
do Romário, onde o deputado federal relata ter apresentado projeto de lei que
pretende tipificar a divulgação indevida de material íntimo (inserir a conduta
específica no rol de crimes previstos pela legislação brasileira). Não estou
certo quanto à pertinência/eficácia social da proposta legislativa, mas
concordo com a motivação de fundo que certamente embasa a proposta: faz-se
necessário repensar o papel sexual da mulher em nossa sociedade. Importa parar
de “julgar as mulheres como se o sexo denegrisse a honra” (nas palavras do
Romário).
Vale mencionar: retirar a estigma
que recobre a prática sexual feminina não significa, de forma alguma,
vulgarizar as relações sexuais. Os cuidados de higiene e saúde, os critérios de
escolha do parceiro(a), o ritual da conquista são, sim, fatores importantes que
envolvem a prática sexual, mas que não possuem uma ligação direta e automática
com a “despejorativização” da mulher que satisfaz seus desejos sexuais, sem
medos, sem preconceitos.
Alerta-se que a ordem moral do
sexo pode ser interiorizada, inclusive, pelas próprias mulheres, que se
submetem então a uma condição de inferioridade voluntária.
Urge reavivar o debate: será a
mulher que possui uma “vida pregressa” menos “para casar” do que uma mulher
“virgem e recatada”? Será a mulher que deixa fluir seus desejos íntimos ligados
ao sexo um ser que deve ser moralmente condenado? Será a mulher um ser que
possui menos direito ao sexo livre de julgamentos morais do que o homem? Será a
mulher que se veste de forma mais “vulgar” (ou sexualmente atraente) um ser
menos digno de pena quando acometida de qualquer violência? Não seríamos nós
mesquinhos e hipócritas ao condenar a mulher que desenvolve suas taras? Não seria
a moralidade sexual da mulher uma simples reprodução de uma sociedade machista?
Não seria a “mulher vadia” um símbolo da libertação feminina?
Luís Henrique
Kohl Camargo - GEDIS
O texto tenta questionar os valores morais da sociedade ocidental, concluindo com uma pergunta que uma resposta velada possui: A mulher só se libertará do machismo quando for tão machista quanto os homens, ou seja, quando desvincular o sexo da moralidade, que é o grande desejo dos homens desde o início dos padrões morais. Os costumes, ora lei, ora meros costumes,foram inclusive defendidas em sociedades matriarcais, nas quais as mulheres decidiam os destinos da sociedade e do estado. Quando a sociedade como um todo, não só homens mas mulheres se submetem ás leis cegas da libido, passam a se animalizar e negar a natureza humana em si, mormente o desejo de transcendência que nos acomete a todos. Assim, a cartilha de Gramsci mais uma vez está sendo posta como cortina de fundo do ideário que, talvez por ingenuidade, o autor do texto defende através de questionamentos. Não seria justamente a exaltação do sexo como novo deus da pós-modernidade um dos grandes motivadores da destruição da dignidade dos relacionamentos e da redução da mulher a uma simples mercadoria. Ante a cultura gay e seus braços midiáticos ela hoje se estende também, essa cultura do reducionismo hedonista, também aos homens cada vez mais sem camisa em novelas e em anúncios publicitários... O retorno ao conceito de natureza humana e uma sadia antropologia não seria a resposta a pergunta feita pelo amigo???
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