
Contudo, essa postura da grande imprensa nacional não é surpresa para
ninguém. As quatro principais redes de TV aberta reproduzem o mesmo discurso em
seus telejornais (o que nos leva a uma questão que extrapola os objetivos deste
texto – que, a propósito, nem foram expostos ainda –, qual seja a da efetiva
liberdade de imprensa no Brasil). O que
de fato causa calafrios até mesmo em quem tem, ainda que lá no fundo, esperança
de que o governo encabeçado por Dilma Rousseff mostre seu caráter de (centro-)esquerda,
é a forma como este tem (des)tratado o funcionalismo público federal, em
especial os professores e técnico-administrativos em educação das universidades
e dos institutos federais de educação. Aí está o que se pretende discutir
aqui.
Adentrando a onda das modernas teorias da administração pública (que, de
modo simplificado, pressupõe a adesão aos modelos clássicos da administração
privada), o governo Dilma caracteriza-se, até o presente momento, pela ausência
de diálogo, por decisões de gabinete e por políticas públicas de curto prazo,
pensadas com calculadoras, não com cérebros. O termo mais adequado para o tipo
de governo em curso talvez seja o de ‘gestão’, ou então o de ‘gerência’. É
notável a prioridade do econômico em relação a outros setores essenciais para o
país e, em longo prazo, inclusive para o universo das finanças. A aprovação
(embora com 12 modestos vetos que pouco alteram o retrocesso causado) do novo
Código Ambiental e os pacotes de corte de gastos no setor público (já no
segundo mês do governo o corte anunciado foi de R$ 50 bilhões), que compromete
sobremaneira a qualidade do serviço prestado à população, embora agrade a
banqueiros, investidores e à grande mídia, são exemplos dessa política do agora
para o agora.
Tal política vem acompanhada de uma campanha midiática que,
concomitantemente apresenta o Brasil como um território livre da famigerada
crise econômica mundial e ressalta que é preciso tomar as decisões tendo a
crise na cabeça. Em síntese, exalta-se a seriedade, a diligência, a
objetividade (e demais adjetivos sebosos) com que são tratados pela equipe
econômica do governo federal (MF e MPOG) os assuntos econômicos. A suposta
bonança, a ‘louvável postura’ dessa gestão, a atuação da grande mídia e as
políticas assistencialistas ajudam muito a explicar os altos índices de
aprovação do governo Dilma, mesmo com o país parado pela luta do funcionalismo
público.
Durante o governo Lula, os servidores federais, em especial os
professores e técnico-administrativos em educação, viveram uma situação
contraditória. De uma lado ampliou-se sua participação no mercado de trabalho
nacional, sobretudo com as políticas de expansão e criação de novos institutos
e universidades federais. De outro vivenciaram a estagnação salarial, a perda
de direitos previdenciários e a precarização das condições de trabalho, esta
última produto da própria expansão, que tem sido pautada em critérios numéricos
e quantitativos de fundo político-eleitoreiro, carente de planejamento.
Evidente que a criação de novas instituições federais de ensino está
relacionada a antigas reivindicações de regiões antes preteridas pelo poder
público federal, em especial aquelas distantes das capitais. Exigia-se educação
pública, gratuita e de qualidade que não obrigasse o deslocamento do estudante
para um grande centro estadual. O governo Lula levou a educação pública e
gratuita para estas regiões, espera-se que o governo Dilma contribua com a
qualidade, parcialmente mantida hoje pelo esforço dos servidores.
Que fique claro que o posicionamento aqui defendido não é contrário à
expansão das universidades e institutos federais, o é apenas do modo como tem
sido conduzido. A criação de novos campus de instituições federais é uma
necessidade de várias regiões pauperizadas, entretanto, manter esse modelo é
levar a estes lugares uma ilusão instrumentalizada por escusos interesses.
A greve que iniciou-se em 17 de maio e que hoje abrange a maioria
absoluta das instituições federais de ensino, poderia ter sido evitada ou
abreviada se o governo tivesse criado (e isso só cabe ao governo) e mantido
(aqui sim, governo e sindicatos) um canal de diálogo constante e democrático.
Entretanto, verificou-se uma insistência inflexível em postergar reuniões e
mesas de negociações, tentativas de desmobilização e divisão entre os
servidores em greve (oferecendo propostas para uma das categorias apenas),
ameaças totalitárias como o corte de ponto (fruto da já mencionada adesão aos
modelos da administração privada), e divulgação de informações falaciosas com o
objetivo de jogar a opinião pública contra os servidores paralisados.

Toda greve é um embate entre forças desiguais, o fortalecimento recente
do movimento dos docentes e dos técnico-administrativos em educação (para não
citar as várias outras categorias de servidores federais que estão em greve)
denuncia que estamos diante de um momento decisivo. Diante de nós apresentam-se
no mínimo dois modelos de desenvolvimento, que não são por inteiro
incompatíveis, mas o são em seus aspectos fundamentais. De um lado o já
conhecido modelo economicista, de políticas de curto prazo, de precarização do
serviço público e de anulação do Estado (aí mais um elemento que faz com que a
grande mídia – vinculada às, e parte integrante das, propostas neoliberais –
aplauda a postura desse governo), o que vai ao encontro dos interesses
privados. De outro, um modelo que pensa o Brasil em suas potencialidades, que
prioriza políticas públicas cujos frutos serão colhidos pelas próximas
gerações, que entende que o único caminho para o efetivo desenvolvimento social
é o do investimento em educação e nos profissionais que a ela se dedicam, que
atribui ao Estado papel fundamental na condição de representante e defensor dos
interesses da coletividade nacional.
Temos diante de nós um cenário de possibilidades ou de barbárie, o
momento é de luta e vigilância!
Bruno Antonio Picoli - GEDIS
Nenhum comentário:
Postar um comentário