Desde março deste ano, tramita
no Congresso Nacional um projeto de lei cujo objetivo é a legalização da
produção, uso e venda da maconha. É de se imaginar que o projeto
ainda causará muito mais polêmica do que já vem causando – contudo, é muito
importante decifrarmos os traços de preconceito e desinformação que poluem o
debate.
É que tem muita gente
satanizando a maconha enquanto toma sua cervejinha, tranquilo, na mesa de bar.
Muitos desses ficariam assustados caso soubessem que o estrago físico e
psíquico da cervejinha é muito maior do que aquele causado pela maconha. Há
diversos e variados estudos apontando que tanto o álcool quanto o tabaco (que
são atualmente as nossas drogas legais) são bem mais nocivos que a maconha:
nesse prisma, o usuário de maconha pode até ser visto como uma pessoa que não
quer violentar tão gravemente seu corpo com drogas tão pesadas como o álcool e
o cigarro.
Esse é o traço da
desinformação. Passemos ao preconceito.
Sabendo que a maconha é
consideravelmente menos nociva do que o álcool, por que será que este é
permitido, enquanto aquela não? A história indica: preconceito. Maconha, no
Brasil e em outros lugares do mundo, é caracterizada como uma droga consumida
pela “ralé” (embora, é claro, nem sempre seja assim). Trazida ao Brasil por
escravos africanos, foi utilizada em rituais umbandas – “grupos excluídos que
faziam coisas erradas”. Aí vem uma história de marginalização das práticas
desses grupos, processo que envolve, também, o consumo de maconha.
Não há critério racional que
sustente ser o álcool legal, e a maconha não.
Muito se fala que “a maconha é
a porta de entrada para outras drogas”, o que é, de longe, uma perspectiva
bastante falha. Marginalizada, a maconha é, na verdade, o objeto de atração
manipulado pelos traficantes para seduzir o usuário e, dessa forma, levá-lo às
mais nocivas. Não é a maconha, mas o fato de ser ela ilegal e, assim, não
contar com nenhum controle estatal para regular seu uso.
Além do mais, está mais do que
na hora de percebermos que a polícia e o direito penal fracassaram na luta
contra as drogas. Utilizar o aparato policial para coibir esse tipo de conduta
é como “fazer a barba com um machado” – o estrago causado pela ação policial é
muito maior do que o próprio estrago causado pelo uso da droga. Cadeia não
recupera viciado e não impede o tráfico –um mercado tão lucrativo que, quando
se prende um traficante, logo surge outro para ocupar seu lugar na sociedade
(lucrativo porque é proibido, elevando o custo da mercadoria).
A legalização é uma forma
oblíqua e civilizada de atacar o problema do consumo das drogas. Para que isso
aconteça, é importante livrarmo-nos da desinformação e do preconceito, para que
estejamos habilitados a um debate cidadão e efetivo.
Luís Henrique Kohl
Camargo - GEDIS
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