Há pouco, relembramos que há 50 anos um golpe militar destituiu o
presidente constitucional João Goulart e instaurou um regime ditatorial,
que perduraria por mais de 20 anos. Se o preço da liberdade é a
vigilância, a memória é uma condição para que essa atrocidade política
não se repita. Abaixo, alguns dados interessantes sobre a ditadura
militar de 64, capazes de nos fazerem refletir sobre certas besteiras
que vêm sendo displicentemente proferidas ainda hoje:
1. Se
a marcha foi pela família, a ditadura não. Inúmeras famílias foram
destruídas durante o regime militar que sangrou o Brasil de 1964 a 1985.
Os meios de destruição contavam, inclusive, com a tortura de crianças
defronte seus pais. Isso sem contar aqueles pais que simplesmente foram
sumidos do mapa e aquelas crianças que nasceram na prisão.
2. O
poder vicia: a ditadura de 64 também era para durar “seis meses”. Tanto
que o primeiro ato institucional sequer número tinha. Entretanto,
alguma força sei lá de qual universo obrigou os militares a manter a
ordem até 1979, caindo definitivamente em 1985 (mais de vinte anos
depois). E ainda tem gente que, hoje, defende uma intervenção militar
“transitória”, nos mesmos moldes de 64.
3. Sem
corrupção, nem acerto de contas. Os militares no poder não precisavam
prestar contas de seus atos à população. Da mesma forma é possível
imaginar a dificuldade de a imprensa noticiar qualquer irregularidade:
se até música contra a ideologia do regime era censurada, quanto mais
denúncias de corrupção! Isso justifica, de certa forma, a impressão
popular de que, na época, não havia corrupção (embora inúmeras
irregularidades, dentre elas denúncias de superfaturamento de obras da
época, foram confirmadas após o fim da ditadura militar).
4. Apoio
impopular: os militares não foram “chamados pelas ruas” para tomar o
poder. Havia uma séria polarização de interesses na época, entretanto de
forma alguma é possível afirmar que a ampla população desejou o golpe
de 64. Além do mais, os militares não fizeram nada menos que depor, à
força, o presidente que havia sido eleito justamente pelo voto popular
(João Goulart, vice de Jânio, que havia renunciado ao cargo). Jango
discursou, inclusive, para mais de 100 mil pessoas no famoso discurso da
Central do Brasil, em 13/03/1964 (algumas semanas antes do golpe).
Difícil sustentar que o golpe militar reforçou a democracia.
5. Quem
defendeu no início virou vítima no final. A título de exemplo: a OAB e a
Igreja Católica foram grandes apoiadores do início do regime militar.
No entanto, gradualmente as arbitrariedades do regime foram aumentando,
fazendo com que tais órgãos se posicionassem cada vez mais contra a
ditadura. Resultado: padres e advogados acabaram, então, sendo
perseguidos pelo regime.
Luís Henrique Kohl Camargo - GEDIS
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