sexta-feira, 3 de abril de 2015

Eduardo, 10 anos: um efeito colateral?

Fonte: G1*
Ontem, 2/4/2015, véspera de sexta-feira santa, um menino de 10 anos chamado Eduardo morreu baleado em uma operação policial nas favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. Dizem que foi bala perdida. De qualquer forma, Eduardo não foi o primeiro a morrer assim e provavelmente não será o último.

Vê-se pessoas defendendo a polícia. Afirmam que “há algo mais nessa história”. Até publicaram uma foto falsa em que supostamente Eduardo aparece segurando um fuzil. Pessoas querem de toda forma explicar o crime. Todo um cenário vem sendo construído sobre a morte do menino.

A notícia parece muito distante de nós, pacata população do oeste catarinense. Entretanto, a parcimônia com que encaramos notícias assim provém da certeza de que nunca sofreremos, em nossos lares, operações policiais parecidas com as UPPs do Rio de Janeiro.

Em nosso confortável distanciamento, tratamos notícias assim como meros “efeitos colaterais” de um “mal necessário” causado pela guerra contra as drogas. Ora, existem traficantes perigosos na favela, a polícia precisa enfrentá-los, nessa batalha é razoável que uma ou outra pessoa morra.

Falamos isso porque sabemos que temos condições de morar em um lugar bem distante desses conflitos. Aí, não nos preocupamos com as vidas perdidas nesse caminho. Nem sequer tratamos essas pessoas mortas como vidas perdidas, mas sim como simples fatos, estatísticas, consequências de uma luta digna enfrentada pelos nobres policiais. Em nosso cinismo, aceitamos os efeitos colaterais da guerra contra as drogas – mas somente quando esses efeitos são sofridos por aqueles que não gostamos: pretos, pobres, vadios, gente que precisa de bolsa família, gente que não quer estudar, funkeiros e por aí vai.

Fico imaginando se uma bala perdida assim acertasse a cabeça do filho do Datena. Sem dúvida a repercussão seria bem diferente.

Amigos leitores, todos nós sabemos que existe uma certa classe de pessoas, um certo estrato social, que serve justamente para ser saco de pancadas. Não gostamos dessas pessoas, temos medo dessas pessoas. Gostaríamos que essas pessoas ficassem longe de nós. É até difícil aceitar que essas pessoas são gente como a gente. Essas pessoas são extermináveis, podem sofrer pena de morte e execução sumária. São bandidos, traficantes, e não pessoas que cometem crimes.

As circunstâncias comprovam: Eduardo era exterminável. Morrer da forma que morreu era um risco que sua condição de negro morador de favela lhe impunha. Azar o dele.

Nosso ímpeto selvagem faz-nos aceitar que valores básicos da sociedade, como a proteção da vida de outro ser humano, sejam relativizados para que satisfaçamos nossa sede de vingança.

Para o fascista, os fins justificam os meios.

Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis

*Link da foto: http://s2.glbimg.com/4gv6DAz0zo6uT3Jt2WUr87yqO2g=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/04/03/odr20150403103.jpg

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