segunda-feira, 27 de março de 2017

TEMPOS UIVANTES*

O tempo e o vento uivam
marcando nossas vidas.
Levam, trazem juventudes
e emplacam tirania.
Motivam más mudanças
e, sem temperanças,
nossas aposentadorias.

Desentendido de finanças
Desacreditado nestes tempos
por toda antidemocracia
se instalando em arrebentos
Mas, acredito em esperanças
em bem-aventuranças,
em novos argumentos.

Escrevendo nada com nada,
entrelaço a armação.
Sabendo que não se justifica
corrupção com sonegação.
Só não quero comer paçoquinha
e rapadura com farinha
em estado de exceção.

Fábio Soares – Professor e mestre em Comunicação.


 SEI LÁ!*

Sei lá. O tempo é uma dimensão difícil, tudo porque ele carrega embora a nossa juventude, derruba os nossos cabelos e agora levará a nossa aposentadoria, pois quando somado à tirania o estrago é grande. O tempo contado em semanas é legal, porque nas semanas há os finais de semana, e nos finais de semana eu não tenho que trabalhar. Ninguém deveria. Trabalhar nesse tempo é fazer muitas coisas que às vezes não entendemos. Por falar em não entender, eu não entendo nada de finanças. Sobre isso, eu só sei que tem a dívida pública da união; tem a dívida do município; e tem a certeza de que em nenhuma delas haverá auditoria. Tenho pensado em assistir alguma produção que não seja de terror ou algum documentário que não seja triste, porque aqueles da guerra civil na Síria são doídos demais, ainda mais quando as vítimas são as crianças pequeninas e nós temos que ficar na condição impotente de somente olhar a barbárie do outro lado da tela. Bashar al-Assad não é um sujeito bom. Nem o Temer é, porque impor reformas e ignorar a sociedade civil é ser antidemocrático. Eu tô pensando na democracia. Democracia está nos livros, está na constituição, está na periodicidade das eleições, mas ela, a democracia, está nas relações? Porque não é democrático fazer uma avaliação na escola e não haver, institucionalmente, possibilidade de recorrer à correção. Eu escrevo nada com nada mesmo. Eu gosto da escrita do Gabriel García Márquez. E gosto dele. Eu poderia gostar de muitas pessoas, mas nem sempre eu gosto. Quando a pessoa pensa muito em dinheiro eu não gosto. E também não gosto de quem sonega imposto argumentando que "lá em cima roubam tudo mesmo", até porque corrupção e sonegação são coisas parecidas. Falando em coisas parecidas, paçoquinha e rapadura são coisas parecidas para mim, porque ambas são doces e me dão vontade de tomar bastante água, só espero que amanhã ou depois não me digam que na rapadura e na paçoquinha acrescentaram substâncias maléficas, porque me sentirei desesperançado demais. Falando nisso, eu me lembrei dos casos em que o leite foi adulterado. É porque quando estoura o resultado das investigações somos bombardeados de noticiários relatando as acusações, mas depois, no tramitar dos processos judiciais, não voltamos a tomar conhecimento de nada, inclusive das decisões finais. Será que não é isso que produz em nossas cabeças a ideia de que nada dá em nada? Pensando.


André Detoni – graduando em Direito.

* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 24 de março de 2017.

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