MEA CULPA
Somos humanos e, assim sendo, naturalmente
tendenciosos. Nossos valores adequam-se à nossa ética, e vice-versa. Meus
amigos sempre serão julgados com maior compreensão e tolerância que meus
inimigos.
Sou contrário a que o Congresso impeça o
prosseguimento da denúncia contra Temer, mas votarei em Lula em 2018.
Se o Moro condena Lula, é porque pretende
na verdade impedir que Lula seja candidato.
Se absolve, é porque está pegando leve com
a corrupção no Brasil.
Chamo de imbecis aqueles que apoiam
Bolsonaro; considero-os ainda mais imbecis se eles me chamarem de imbecil.
Se critico o sistema capitalista, chamo de
porcos sujos aqueles que o apoiam. E se eles me chamarem de comunistinha ou
mortadela, eles que são os ignorantes políticos.
Apoio o sistema capitalista e mesmo
observando a tragédia da desigualdade crescer em terras capitalistas, continuo
afirmando que foi o socialismo que não deu certo.
Critico a Lava Jato, mas se ela conseguir
levar à prisão do Aécio, ok.
Ontem, fui às ruas
contra a corrupção, derrubei o governo corrupto PT; hoje, assisto Temer e Aécio
saírem impunes e por que protestar?
Prego uma ética de igualdade, de
compreensão, de inclusão do diferente, e não consigo nem sequer dialogar com
quem não concorda com essa minha visão.
Apoio a meritocracia, mas tudo bem
matricular meu filho numa escola particular para ele ter mais chances de ter um
futuro melhor.
Se sou professor, reprovo o aluno que
afirma que o nazismo foi de direita, porque ele está errado.
Reprovo o aluno que afirma que o nazismo
foi de esquerda, só porque ele está errado.
Minha incapacidade de dialogar é
psicologicamente substituída pela ilusão de que, na verdade, é o outro quem não
consegue comigo dialogar.
Estamos todos imersos em uma onda de
cinismo. Todos, exceto a única pessoa autorizada a fazer uma leitura
comportamental da humanidade: eu.
Luís Henrique Kohl
Camargo
A ONDA
Os fatos dos últimos dias
Fizeram-me muito refletir
sobre esse cinismo alheio
que teima em persistir.
Mas tem algo que não percebo
Por que nem mesmo me vejo
como cínico e grão-vizir.
Quando penso nas atitudes
dos outros a inferir
sobre suas preferências
e seus modos de agir.
Acho sempre como penso,
modo, jeito e pensamento,
são únicos a existir.
A conveniência é o natural
quando o fato a avaliar
são amigos ou inimigos
de bem ou mal-estar.
E quando envolve minha ética
tendenciosa e apologética
nem noto meu afagar.
Precisamos ir muito além
E isso prescinde dialogar
Perceber-se e ao outro também
Num intenso movimentar
nossas formas de entender,
ouvir, refletir e compreender
as contradições do pensar.
Fabio Soares
Publicados em 04
de agosto na Coluna Pimenteiro do Diário Data X
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