sexta-feira, 18 de agosto de 2017



MEA CULPA

Somos humanos e, assim sendo, naturalmente tendenciosos. Nossos valores adequam-se à nossa ética, e vice-versa. Meus amigos sempre serão julgados com maior compreensão e tolerância que meus inimigos.
Sou contrário a que o Congresso impeça o prosseguimento da denúncia contra Temer, mas votarei em Lula em 2018.
Se o Moro condena Lula, é porque pretende na verdade impedir que Lula seja candidato.
Se absolve, é porque está pegando leve com a corrupção no Brasil.
Chamo de imbecis aqueles que apoiam Bolsonaro; considero-os ainda mais imbecis se eles me chamarem de imbecil.
Se critico o sistema capitalista, chamo de porcos sujos aqueles que o apoiam. E se eles me chamarem de comunistinha ou mortadela, eles que são os ignorantes políticos.
Apoio o sistema capitalista e mesmo observando a tragédia da desigualdade crescer em terras capitalistas, continuo afirmando que foi o socialismo que não deu certo.
Critico a Lava Jato, mas se ela conseguir levar à prisão do Aécio, ok.
Ontem, fui às ruas contra a corrupção, derrubei o governo corrupto PT; hoje, assisto Temer e Aécio saírem impunes e por que protestar?
Prego uma ética de igualdade, de compreensão, de inclusão do diferente, e não consigo nem sequer dialogar com quem não concorda com essa minha visão.
Apoio a meritocracia, mas tudo bem matricular meu filho numa escola particular para ele ter mais chances de ter um futuro melhor.
Se sou professor, reprovo o aluno que afirma que o nazismo foi de direita, porque ele está errado.
Reprovo o aluno que afirma que o nazismo foi de esquerda, só porque ele está errado.
Minha incapacidade de dialogar é psicologicamente substituída pela ilusão de que, na verdade, é o outro quem não consegue comigo dialogar.
Estamos todos imersos em uma onda de cinismo. Todos, exceto a única pessoa autorizada a fazer uma leitura comportamental da humanidade: eu.

Luís Henrique Kohl Camargo


A ONDA

Os fatos dos últimos dias
Fizeram-me muito refletir
sobre esse cinismo alheio
que teima em persistir.
Mas tem algo que não percebo
Por que nem mesmo me vejo
como cínico e grão-vizir.

Quando penso nas atitudes
dos outros a inferir
sobre suas preferências
e seus modos de agir.
Acho sempre como penso,
modo, jeito e pensamento,
são únicos a existir.

A conveniência é o natural
quando o fato a avaliar
são amigos ou inimigos
de bem ou mal-estar.
E quando envolve minha ética
tendenciosa e apologética
nem noto meu afagar.

Precisamos ir muito além
E isso prescinde dialogar
Perceber-se e ao outro também
Num intenso movimentar
nossas formas de entender,
ouvir, refletir e compreender
as contradições do pensar.

Fabio Soares


Publicados em 04 de agosto na Coluna Pimenteiro do Diário Data X


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