Você levanta de manhã, veste seu uniforme e vai trabalhar. É um atendente de loja, um empresário, um mecânico ou um pedreiro. Ao final do mês, você tem a expectativa de receber um determinado valor oriundo do seu trabalho. Sabe, também, que existem diversos fatores influenciando no montante real desse valor final: inflação, aumento do salário mínimo, pressão de sindicatos, pressão de políticos etc.
Observe que existem muitas pessoas que são atingidas pelas mesmas circunstâncias que você. Fatos similares as afetam praticamente da mesma forma que afetam a você. Por exemplo: se você é empregado doméstico, a recente aprovação da Lei Complementar nº 150/2015, que concedeu vários direitos novos a você e mais todos os empregados domésticos do Brasil, valorizou o seu trabalho e também o de vários outros empregados domésticos do Brasil inteiro. Da perspectiva da profissão, vocês, empregados domésticos, formam uma classe social.
Agora vejam só: por outro lado, as pessoas que contratam empregados domésticos foram afetadas negativamente com a aprovação da mencionada lei complementar. Dessa perspectiva, essas pessoas também formam uma classe social.
Classe social é mais ou menos isto: um conjunto de pessoas com interesses economicamente similares e que, nessa perspectiva, estão em posições sociais também similares.
A posição social de uma pessoa é definida pelo papel que ela ocupa na sociedade e pelo seu padrão de consumo. Na verdade, o padrão de consumo é aquilo que identifica perante aos demais qual é a posição social de uma pessoa. É muito mais difícil ver um operário andando de Hilux do que um granjeiro ou um médico. Nesse raciocínio, é possível dizer que, atualmente, granjeiros e médicos estão em uma posição social privilegiada em relação aos operários de fábrica, por exemplo.
Uma posição social garante ao sujeito um feixe variado de direitos. Na prática, além de andar de Hilux, uma posição social privilegiada garante ao sujeito ser tratado com mais deferência, ser observado com mais respeito e por incrível que pareça ser menos vigiado pela polícia. Apenas exemplos.
O sujeito consciente de seu lugar na sociedade pode estar satisfeito ou insatisfeito com a sua vida, com aquilo que sua posição social lhe proporciona. Se estiver insatisfeito com sua condição social, o sujeito pode atuar de duas formas: 1) a fuga: ele pode voltar seus esforços à fuga de sua profissão atual, migrando para outra profissão mais prestigiada; 2) a luta: nessa via, o sujeito buscará unir seus semelhantes e reivindicar mais direitos coletivos para toda a sua classe; poderá lutar pela aprovação de uma lei mais benéfica (veja o exemplo dos empregados domésticos!), fazer greve para o aumento dos salários ou a melhoria das condições de trabalho, por exemplo.
Por incrível que pareça, há aqueles que defendem que, se uma pessoa quiser um salário maior, ela deverá esforçar-se para conseguir um emprego melhor. Todavia, esse é apenas um dos caminhos disponíveis às pessoas, como vimos acima. Fica claro que os que defendem esse argumento encontram-se em uma situação social vantajosa e, portanto, não gostariam que as coisas mudassem muito. Se os conceitos de classe e posição social fossem compreendidos, discursos simplistas de tão baixo porte seriam imediatamente evitados.
A todos é dado o direito de lutar para a melhoria de suas condições sociais. Obviamente, alguém sempre será prejudicado por cada progresso dos trabalhadores. Que seja, pelo menos, aqueles que sempre foram privilegiados.
Luís Henrique Kohl Camargo - Gedis
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