A ACEFALIA DA
MÍDIA REGIONAL*
“Ahhhh! Quanto
rock dando toque, tanto Blues, e eu de óculos escuros vendo a vida e
mundo azul”
(Dandy, Belchior)
Enquanto a mídia
nacional se revela nociva em razão da propagação de opiniões, a
mídia regional também mostra-se desajustada ao interesse público,
mas pela razão inversa: a ausência de opinião. Embora ambas
comungam da dimensão feudal de nossa sociedade, que distribui bens a
famílias de acordo com interesses espúrios, postos na economia das
trocas de favores políticos, a mídia regional, especialmente no
ocidente catarinense, tem se revelado incapaz da produção de
conteúdo regional, seja no campo da cultura artística, mas
principalmente no âmbito da cultura política.
Nos meios de
comunicação da região, no que diz respeito a produção e a
difusão de compreensões sociais e políticas, o que se percebe é o
predomínio da trinca: imitação, repetição e bajulação. Tal
conclusão se chega ao perceber quantas vezes por semana, ou por dia,
são reproduzidos nas rádios da região, gravações de comentários
feitos por pretensos analistas guardiões do conservadorismo, os
mesmos se revelam bons apenas na capacidade de jacular adjetivos e em
sintetizar em falas de poucos minutos, as glosas do obscurantismo
irracional. Fenômeno reforçado com a reprodução de parágrafos em
jornais de circulação municipal ou regional, feita por estes
“analistas” de “além-grota”.
Tais comentários servem apenas a reafirmação do atraso
intelectual.
No âmbito do
colunismo político escrito, nestas latitudes ensaiam-se cronistas
cuja pauta se pauta pelo afago aos caciques políticos, em orações
curtas cabe o grosso do raso senso comum, a ele se conjuga outro
elemento ainda mais perigoso: o culto a subalternidade por meio do
discurso laudatório sobre quem possui o poder. Na postura
rastejante, assumida existencialmente por colunistas políticos,
crítica cabe somente àqueles que diante destes “textos” não
tem força para reclamar.
Nossa região é
ainda miserável no que diz respeito á ciência e a cultura
artística. A produção de ideias é o grande desafio
desenvolvimentista, sem ela o monopólio da mortadela pouco alimenta
(grande produto regional, que aliás, sofre com a detração
praticada por movimentos conservadores mistificadores de alguns dos
“analistas” aqui retratados).
Ao invés da
imitação e repetição dos detratores da(os) mortadela(s), ou da
bajulação das famigeradas “liderança locais” a mídia regional
precisa assumir uma postura crítica, comprometida com a
autenticidade, disposta a olhar para as contradições da realidade,
ao invés de tentar torná-las naturais ou ocultá-las. Neste
sentido, um espaço como a coluna Pimenteiro do jornal Data X é uma
novidade importante, pois apresenta uma proposta autêntica e
crítica, desafiadora do mandonismo e do espirito de rebanho, fazendo
com que a palavra sirva a expansão do imaginário.
Samuel Mânica
Radaelli – Professor e Doutor em Direito.
ENVIESADO*
Esse mundo de
verdades
de muitas opiniões
também.
De uns propagando
alarde
de outros o que lhe
convém.
É preciso
serenidade
entender a
alteridade
pra viver por um
além.
Mídia é
comunicação e
comunicar é mesmo
poder.
O quarto dos outros
três
há sempre quem diga
ser.
O problema é a
acefalia
metamorfoseada em
desvalia,
descrédito em
arvorecer.
Cultura política é
uma construção
que dela a mídia
faz parte.
Seja com tenaz
reprodução
ou silenciamentos a
la carte.
É quando analistas
que “pensam”,
jaculam adjetivos e
encenam
perfeita
pseudointelectualidade.
Quantos políticos
afagados!
Latentes colunistas
subalternos.
O que é preciso
desenvolver?
Ideias e uma cultura
de nexos:
artística, política
e crítica
altiva, serena e à
vista
sem os detratos
convexos.
Fabio Soares –
Professor e mestre em Comunicação
*
Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X
de 31 de março de 2017
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