sexta-feira, 26 de maio de 2017

A ACEFALIA DA MÍDIA REGIONAL*


Ahhhh! Quanto rock dando toque, tanto Blues, e eu de óculos escuros vendo a vida e mundo azul” (Dandy, Belchior)
Enquanto a mídia nacional se revela nociva em razão da propagação de opiniões, a mídia regional também mostra-se desajustada ao interesse público, mas pela razão inversa: a ausência de opinião. Embora ambas comungam da dimensão feudal de nossa sociedade, que distribui bens a famílias de acordo com interesses espúrios, postos na economia das trocas de favores políticos, a mídia regional, especialmente no ocidente catarinense, tem se revelado incapaz da produção de conteúdo regional, seja no campo da cultura artística, mas principalmente no âmbito da cultura política.
Nos meios de comunicação da região, no que diz respeito a produção e a difusão de compreensões sociais e políticas, o que se percebe é o predomínio da trinca: imitação, repetição e bajulação. Tal conclusão se chega ao perceber quantas vezes por semana, ou por dia, são reproduzidos nas rádios da região, gravações de comentários feitos por pretensos analistas guardiões do conservadorismo, os mesmos se revelam bons apenas na capacidade de jacular adjetivos e em sintetizar em falas de poucos minutos, as glosas do obscurantismo irracional. Fenômeno reforçado com a reprodução de parágrafos em jornais de circulação municipal ou regional, feita por estes “analistas” de “além-grota”. Tais comentários servem apenas a reafirmação do atraso intelectual.
No âmbito do colunismo político escrito, nestas latitudes ensaiam-se cronistas cuja pauta se pauta pelo afago aos caciques políticos, em orações curtas cabe o grosso do raso senso comum, a ele se conjuga outro elemento ainda mais perigoso: o culto a subalternidade por meio do discurso laudatório sobre quem possui o poder. Na postura rastejante, assumida existencialmente por colunistas políticos, crítica cabe somente àqueles que diante destes “textos” não tem força para reclamar.
Nossa região é ainda miserável no que diz respeito á ciência e a cultura artística. A produção de ideias é o grande desafio desenvolvimentista, sem ela o monopólio da mortadela pouco alimenta (grande produto regional, que aliás, sofre com a detração praticada por movimentos conservadores mistificadores de alguns dos “analistas” aqui retratados).
Ao invés da imitação e repetição dos detratores da(os) mortadela(s), ou da bajulação das famigeradas “liderança locais” a mídia regional precisa assumir uma postura crítica, comprometida com a autenticidade, disposta a olhar para as contradições da realidade, ao invés de tentar torná-las naturais ou ocultá-las. Neste sentido, um espaço como a coluna Pimenteiro do jornal Data X é uma novidade importante, pois apresenta uma proposta autêntica e crítica, desafiadora do mandonismo e do espirito de rebanho, fazendo com que a palavra sirva a expansão do imaginário.


Samuel Mânica Radaelli – Professor e Doutor em Direito.




ENVIESADO*

Esse mundo de verdades
de muitas opiniões também.
De uns propagando alarde
de outros o que lhe convém.
É preciso serenidade
entender a alteridade
pra viver por um além.

Mídia é comunicação e
comunicar é mesmo poder.
O quarto dos outros três
há sempre quem diga ser.
O problema é a acefalia
metamorfoseada em desvalia,
descrédito em arvorecer.

Cultura política é uma construção
que dela a mídia faz parte.
Seja com tenaz reprodução
ou silenciamentos a la carte.
É quando analistas que “pensam”,
jaculam adjetivos e encenam
perfeita pseudointelectualidade.

Quantos políticos afagados!
Latentes colunistas subalternos.
O que é preciso desenvolver?
Ideias e uma cultura de nexos:
artística, política e crítica
altiva, serena e à vista
sem os detratos convexos.


Fabio Soares – Professor e mestre em Comunicação
* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 31 de março de 2017


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