MATERNIDADE
(DES)CONSTRUÍDA*
Parafraseando
Simone de Beauvoir, não se nasce mãe, torna-se mãe. O tal instinto
materno não existe, é introjetado desde o primeiro presente que uma
menina geralmente ganha: boneca. O que há é o mito da mulher como
máquina reprodutora de bebês e uma construção social em torno
disso. Nem todas cultivam na vida adulta o sonho induzido na infância
de ser mãe. Há aquelas que não almejavam a maternidade nem quando
pequenas. E isso, de modo algum, significa não gostar de criança!
Por vezes, não querer ter filhos é uma decisão altruísta.
A
mulher é idealizada pela sociedade já no ventre materno: ‘fure a
orelha!’, ‘use rosa!’, ‘brinque de casinha!’, ‘sente
direito!’, ‘isso não é coisa de menina!’, ‘se depile!’,
‘essa saia tá muito curta!’, ‘batom vermelho tá pedindo!’,
‘tem que saber cozinhar!’, ‘case!’, ‘seja mãe!’.
Aprendemos desde cedo as ‘boas maneiras’ para, no futuro, sermos
mães e esposas convenientes. Ensinam-nos rapidamente que para sermos
completas precisamos de filhos (de preferência mais que um) e um
companheiro ao nosso lado. A própria referência à menina como
princesa, comumente utilizada, sugere fragilidade e necessidade da
figura masculina para proteger e sustentar. Sai o pai, entra o
marido.
A
única característica biológica que difere mulher e homem nos
cuidados de uma criança é a amamentação no peito. Trocar fralda,
dar comida ou ir à reunião de pais na escola não demanda nenhum
outro atributo biológico especial. Porém, são raros os pais que,
de fato, são presentes no dia a dia de suas crias. O patriarcado
ainda é tão forte entre nós que a ideia do pai-ajudante-de-mãe é
aceita naturalmente. Se ele cumpre suas responsabilidades enquanto
pai, é chamado de paizão. E a mãe de sortuda! Quando na verdade
está tão somente exercendo a paternidade, dividindo a criação dos
filhos com a genitora.
Não
é necessário ser mãe para saber que a fantasia de maternidade
romântica, perfeita e maravilhosa, que toda mulher deveria
vivenciar, é uma falácia. Não precisa ser mãe para se sentir
completa e realizada. Escolher não ser mãe é um direito
reprodutivo e isso não a minimiza ou a deixa menos mulher.
Respeitemos! A maternidade deve ser uma escolha, não um fardo do
qual não se pode escapar. Mãe sente, é igualmente gente. Parabéns,
e não só neste domingo, às mães que também choram e reclamam.
Que carregam a dupla ou tripla jornada. Que se sentem sozinhas,
cansadas, inseguras e, às vezes, se arrependem e têm vontade de
chutar o balde. Que possuem sonhos, desejos e vontades próprias.
Dia das mães é mais uma data inventada pela sociedade de consumo,
que vende a romantização da maternidade para gerar lucro.
Regina
Miliorança
COMPULSÓRIA
MÃE*
Mãe é Mãe né pai!
Como assim pensamos?
Introjetados e persuadidos
pela ilusória notoriedade
que a maternidade representa
em nossa sociedade.
É quase uma obrigação
ter filhos de montão:
compulsória maternidade.
Ainda lembro minha vó -
21 dos 14 vivos.
Um ano pra cada um
de longos partos repetidos.
Nem tudo foi alegria
pois a obrigação se fazia
em atender o vovô atrevido!
Lembro também da mamãe –
5 vivos e ela encantou
Deixou seu legado materno
que sempre vontade narrou.
Vil construção patriarcal
Que em encontro dominical
Tanto se consolidou.
Pra muitos: um dom divino.
Pra outras: possível questão.
O importante é compreender
o que se faz em construção.
Seja a mãe reprodutora
ou a escolha emancipadora,
ser Mãe é sempre opção.
Mãe é Mãe né pai!
Como assim pensamos?
Introjetados e persuadidos
pela ilusória notoriedade
que a maternidade representa
em nossa sociedade.
É quase uma obrigação
ter filhos de montão:
compulsória maternidade.
Ainda lembro minha vó -
21 dos 14 vivos.
Um ano pra cada um
de longos partos repetidos.
Nem tudo foi alegria
pois a obrigação se fazia
em atender o vovô atrevido!
Lembro também da mamãe –
5 vivos e ela encantou
Deixou seu legado materno
que sempre vontade narrou.
Vil construção patriarcal
Que em encontro dominical
Tanto se consolidou.
Pra muitos: um dom divino.
Pra outras: possível questão.
O importante é compreender
o que se faz em construção.
Seja a mãe reprodutora
ou a escolha emancipadora,
ser Mãe é sempre opção.
Professor Fábio Soares
*
Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X
de 12 de maio de 2017
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