Há muito a
TEMER*
É difícil escrever
em um momento em que deveríamos gritar, mas ouço apenas um silêncio
ensurdecedor. Sinto-me indignada, com raiva, assustada e só. Ao
olhar em volta não vejo nada, nada além de rotina. Em meio ao caos,
percebo uma ordem desesperadora. Indiferença, conformidade, e cada
um em seu lugar. No lugar em que se está condenado a estar, seja por
sua cor, gênero, classe social ou outras características que
socialmente determinam onde devemos estar, o que devemos fazer e quem
devemos ser. Há quem chame de vocação, há quem diga que se pode
escolher o que se quer ser, mesmo que esta escolha seja limitada a
certas possibilidades.
Mas ouso questionar,
é uma escolha consciente do sujeito o lugar que ocupa ou este lugar
que se ocupa no mundo é definido por variáveis que vão além de
nós, de forma que muitas vezes, não permite que nos posicionemos,
assim o que nos resta é aceitar. Somos estimulados à aceitação e
conformidade o tempo todo, é um discurso comum. E imersos neste
estado de conformidade a ficção satisfaz nossas relações, bombas
calóricas satisfazem nosso paladar, mentiras satisfazem nossa
audição. O que não nos afeta diretamente não nos interessa. E o
que afeta? Pouco podemos fazer em relação a isso, então porque
gastar energia, com o que pode ser ignorado e aceito?
Porém, em
contrapartida, o que podemos fazer? Quando conscientes e sentindo
necessidade de resistir, somos encurralados pela rotina diária e
pelo trabalho. Não nos resta tempo para lutar, não nos resta tempo
para resistir, não nos resta tempo para discutir, não nos resta
tempo para ter voz. Precisamos sair de nossa zona de conforto, e
perceber que para que algo aconteça é preciso agir. Sair da ilusão
de que alguém vai fazer o que cabe a qualquer um, pois do contrário
continuaremos culpando todo mundo, por algo que ninguém fez.
Monique Fernanda
dos Santos
*
Publicado na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X
de 19 de maio de 2017
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