sexta-feira, 26 de maio de 2017

UM PROJETO PARA A MEDIOCRIDADE*


Darcy Ribeiro dizia que a crise da educação brasileira é um projeto. O idealizador da Universidade de Brasília e dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) sabia do que estava falando. Darcy Também dizia que a elite brasileira é ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa, que não deixa o país ir em frente. Por não se curvar ante ao poder dessa elite, Darcy foi exilado, cassado e caluniado, não recebendo no Brasil o reconhecimento que goza fora. As duas afirmações acima são centrais para compreender o que significa a reforma temerária do Ensino Médio nacional.
Que fique claro que não se afirma aqui que o Ensino Médio que temos é bom e que seu currículo dá conta das necessidades dos jovens estudantes. Diante disso, desde 2013 há uma minuta pronta para ser apreciada pelos deputados federais que altera o currículo e o formato dessa etapa da educação básica (trata-se do PL 6840/2013, cujo texto foi debatido em audiências públicas por todo o país e não foi proposto por um deputado, mas por uma comissão com deputados de todas as bancadas). Como Temer e seus comparsas não dão a mínima para o processo democrático, apresentaram uma reforma de cima para baixo, via medida provisória, já aprovada pelas duas casas legislativas (Lei 13415/2017), que comprovam as duas frases de Darcy.
A propaganda temerária vende o novo Ensino Médio como o “da escolha”. Esqueceram de contar na peça publicitária que nem todos terão direito a escolher o itinerário formativo que gostariam de estudar. É isso mesmo! A Lei 13415/2017 atribui às redes de ensino a responsabilidade por definir a especialidade ofertada por cada escola sem estabelecer um mínimo de opções. Isso quer dizer que em municípios com apenas uma escola com Ensino Médio (situação comum em nossa região), a rede estadual pode dar ao jovem o privilégio de escolher entre Matemática e Matemática! Ou entre Ciências da Natureza e Ciências da Natureza! Uma beleza, não?!
Mas fiquemos tranquilos! Isso não está ruim para todos! Afinal, para os que podem pagar por Ensino Médio privado as coisas não mudam muito! As redes podem ofertar todos os itinerários formativos, ao mesmo tempo, para todos os seus alunos! Assim, terão mais aulas de história, de física, de matemática, de biologia etc. Se a rede de ensino quiser pode oferecer todos os itinerários menos o técnico! Afinal, que os filhos dos pobres aprendam a trabalhar! Afinal, quais jovens estarão mais preparados para a vida social complexa e tecnológica? Quais estarão em melhores condições na disputa por vagas em universidades de qualidade?
Agora, para aqueles que matricularem seus rebentos na rede pública, especialmente a estadual, meus sentimentos! O projeto denunciado por Darcy ganhou um novo capítulo e aquela gente medíocre e azeda avançou!


Bruno Antonio Picoli, professor




PROJETO AZEDO*


Um dia, o querido Darcy
muito bem antecipava
que o entrave do país
muito fácil se enxergava:
a elite brasileira razinza,
azeda e interesseira
morro abaixo empurrava.

Vemos muito bem
a democracia arquejando
discursos em troca da discussão
e a educação afundando.
Concebida de uma medida provisória
sem um pingo de memória
e o povo se lascando!

O ensino médio da escolha
Não tem escolha alguma.
Falácia e verdade escondida
atrás de um “novo” de alcunha.
Já pensou escolher sem opção
Numa parca dimensão
que de escolha não há nenhuma.

O projeto ganhou asas
e a elite consegue voar
ao contrário dos mais pobres
que continuarão a apanhar
por falta ou nenhuma opção
quero dizer a “técnica” terão
para logo trabalho virar.


Fabio Soares da Costa, Professor


* Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X de 20 de abril de 2017

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