UM
PROJETO PARA A MEDIOCRIDADE*
Darcy
Ribeiro dizia que a crise da educação brasileira é um projeto. O
idealizador da Universidade de Brasília e dos Centros Integrados de
Educação Pública (CIEPs) sabia do que estava falando. Darcy Também
dizia que a elite brasileira é ranzinza, azeda, medíocre, cobiçosa,
que não deixa o país ir em frente. Por não se curvar ante ao poder
dessa elite, Darcy foi exilado, cassado e caluniado, não recebendo
no Brasil o reconhecimento que goza fora. As duas afirmações acima
são centrais para compreender o que significa a reforma temerária
do Ensino Médio nacional.
Que
fique claro que não se afirma aqui que o Ensino Médio que temos é
bom e que seu currículo dá conta das necessidades dos jovens
estudantes. Diante disso, desde 2013 há uma minuta pronta para ser
apreciada pelos deputados federais que altera o currículo e o
formato dessa etapa da educação básica (trata-se do PL 6840/2013,
cujo texto foi debatido em audiências públicas por todo o país e
não foi proposto por um deputado, mas por uma comissão com
deputados de todas as bancadas). Como Temer e seus comparsas não dão
a mínima para o processo democrático, apresentaram uma reforma de
cima para baixo, via medida provisória, já aprovada pelas duas
casas legislativas (Lei 13415/2017), que comprovam as duas frases de
Darcy.
A
propaganda temerária vende o novo Ensino Médio como o “da
escolha”. Esqueceram de contar na peça publicitária que nem todos
terão direito a escolher o itinerário formativo que gostariam de
estudar. É isso mesmo! A Lei 13415/2017 atribui às redes de ensino
a responsabilidade por definir a especialidade ofertada por cada
escola sem estabelecer um mínimo de opções. Isso quer dizer que em
municípios com apenas uma escola com Ensino Médio (situação comum
em nossa região), a rede estadual pode dar ao jovem o privilégio de
escolher entre Matemática e Matemática! Ou entre Ciências da
Natureza e Ciências da Natureza! Uma beleza, não?!
Mas
fiquemos tranquilos! Isso não está ruim para todos! Afinal, para os
que podem pagar por Ensino Médio privado as coisas não mudam muito!
As redes podem ofertar todos os itinerários formativos, ao mesmo
tempo, para todos os seus alunos! Assim, terão mais aulas de
história, de física, de matemática, de biologia etc. Se a rede de
ensino quiser pode oferecer todos os itinerários menos o técnico!
Afinal, que os filhos dos pobres aprendam a trabalhar! Afinal, quais
jovens estarão mais preparados para a vida social complexa e
tecnológica? Quais estarão em melhores condições na disputa por
vagas em universidades de qualidade?
Agora,
para aqueles que matricularem seus rebentos na rede pública,
especialmente a estadual, meus sentimentos! O projeto denunciado por
Darcy ganhou um novo capítulo e aquela gente medíocre e azeda
avançou!
Bruno
Antonio Picoli, professor
PROJETO
AZEDO*
Um
dia, o querido Darcy
muito
bem antecipava
que
o entrave do país
muito
fácil se enxergava:
a
elite brasileira razinza,
azeda
e interesseira
morro
abaixo empurrava.
Vemos
muito bem
a
democracia arquejando
discursos
em troca da discussão
e
a educação afundando.
Concebida
de uma medida provisória
sem
um pingo de memória
e
o povo se lascando!
O
ensino médio da escolha
Não
tem escolha alguma.
Falácia
e verdade escondida
atrás
de um “novo” de alcunha.
Já
pensou escolher sem opção
Numa
parca dimensão
que
de escolha não há nenhuma.
O
projeto ganhou asas
e
a elite consegue voar
que
continuarão a apanhar
por
falta ou nenhuma opção
quero
dizer a “técnica” terão
para
logo trabalho virar.
Fabio
Soares da Costa, Professor
*
Publicados na Coluna Pimenteiro na versão impressa do Diário Data X
de 20 de abril de 2017
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