sexta-feira, 18 de agosto de 2017



SEI LÁ

Sei lá. Uma maçã com agrotóxico e eu fico me sentindo todo saudável. Uma reforma trabalhista de retrocesso e eu fico me sentindo todo moderno. Na euforia de viver eu vou ignorando que estamos adentrando em tempos sombrios. Procuro tomar um chá quente no frio e um suco de morango gelado no calor para ir vivendo. De vez em quando me pego recordando os dizeres do Galeano, quando afirmava que o século XX iniciou anunciando prosperidade e terminou banhado em sangue, referindo-se aos caminhos desse nosso século XXI. Deixamos a maçã para depois. Eu tive um professor muito querido que tô achando ser ele um profeta: um dia os nazistas irão bater em sua porta. Começamos lentamente. Uma gente desejando censurar o conhecimento, outra o estilo musical alheio. Tem uma gente acorrentando ladrão aqui, enquanto apoia ditador lá. O primeiro rouba galinha, o segundo a democracia. Quem veio antes, a ditadura ou galinha?  A galinha ou a democracia? Tem uma gente aplaudindo sentença penal condenatória sem fundamento. É a exceção do estado ou é o estado de exceção? A placa de pare está em todas as esquinas. Não paramos, avançamos. Procuramos um café com leite num posto de gasolina. Encontramos mais gasolina do que café. Eu tô nessa. Uma democracia de areia. A tempestade está vindo ou já chegou? Molhados de água, de pancadas e de sangue, mas sempre haverá o guarda-chuva da esperança. Se tenho eu oportunidade de falar, não posso me calar, nem falar o que o vento sopra. Já pensou eu ser um colunista que reproduz a mesmice? Tem a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, tudo porque quem se elegeu prometendo a reforma política foi passada para trás. Somos diariamente envenenados pela maçã e pela televisão. Sempre acaba em pizza, mas estamos conseguindo piorar, terminaremos em algo sombrio. Um dia os nazistas vão bater em nossa porta.

André Detoni


TOC TOC TOC

Quem é?
Sou eu!
Eu quem?
Anjo bem!
O que queres?
Roubar a democracia
Fazendo da hipocrisia
meu caminho para o além.

Nesses dias de paragem,
paramos de avançar.
Rumamos em retrocesso
cavalgando em disparar
mirando em direção
de um estado de exceção,
exceto pra roubar.

Roubando a democracia
vimos tantos legislar
outros tantos decidir
com a toga ajuizar
e mais uns mil persuadir
e em delações admitir
nosso dinheiro afanar.

Ladrões de tantos tipos:
de galinhas e democracia.
Cerceando conhecimento,
condenando o que eu fazia,
proibindo a minha música,
ignorando Zaratrusta e
hitlerizando em apologia.

Ah! Como eu queria
que o toc toc fosse o amor
que eu abrisse a porta logo
e visse a liberdade em esplendor.
Que não fosse aquele nazista
autodeclarado articulista
com ideal conservador.

O caminho parece sombrio
e os poderes um tanto manchados.
A TV em constante desvio
e um sem números de descalabros.
Um sentimento de arrepio
Invade meu corpo bem frio
E de todos aqueles amordaçados.

Toc toc toc
Quem é?
Sou eu!
Eu quem?
Anjo bem!
O que queres?
O quarto Reich.


Fabio Soares

Publicados em 21 de julho na Coluna Pimenteiro do Diário Data X


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