SEI LÁ
Sei lá. Eu escrevo por que isso alivia a minha cabeça, os meus
pensamentos e as batidas de meu coração. Eu escrevo por recomendação
psiquiátrica. Escrevo porque essa é a minha droga: me dá uma sensação boa e
acaba comigo em seguida, mas ao final, me deixa pronto para desenhar nessas
linhas novas frases sem sentido algum. Onde estão os traficantes de palavras?
Alguém pode adentrar ao submundo da clandestinidade para me levar até um? São
as palavras que acabam conosco. São as palavras
que enchem a nossa bola e produzem centenas de sensações boas. É com palavras
que eu peço cerveja, canto escondido e manifesto as minhas utopias já
desgastadas com o tempo. Tenho acordado pensando em tudo e em nada, mas todos
os dias vou dormir pensando em acordar cedo para tomar café preto com algum
bolo com pouco açúcar. Então o dia começa mesmo. De um lado a vitória, de outro
a derrota, e eu ao meio delas, me equilibrando como se estivesse em cima de um
muro. Ando com um pé de cada vez e quando decido acelerar caio num dos lados.
Caio de cabeça e não aproveito nada, não sinto o gosto da vitória, nem o peso
da derrota. Não sou doce, não sou salgado, sou apenas um humano perdido nesse
universo sem gosto, embora eu sinta o gosto da vida. Quantos de mim existem por
aí? Será Deus o meu criador? Ou sou fruto da natureza e suas combinações
aleatórias que deram em vida? De qualquer maneira, vivo vivendo, procurando
subir as escadas de costas para nunca perder de vista a minha origem. Tropeço,
caiu e desço. Já tentei me esconder dentro de um balde e detrás de uma cortina
transparente. Não consegui me esconder nem por um segundo. Segundo é o tempo
que a paixão leva para nos desgraçar ou nos levar ao paraíso terrestre. Sou um
artista feliz, sem dinheiro, sem fama e sem qualquer pretensão. A arte é a
expressão dos tormentos da alma. Todos somos artistas. Somos todos
atormentados. O que é melhor: a sensação de possuir muito dinheiro ou a
sensação de ajudar uma alma que sofre com as maldades do mundo? Tenho uma
felicidade enorme dentro de mim, mesmo sem saber ao certo quem sou eu. De
frente para a churrasqueira eu vejo a vida e a morte. Penso numa palavra para
expressar o que meus olhos veem e não encontro nada. Onde estão os traficantes
de palavras? Alguém pode adentrar ao submundo da clandestinidade para me levar
até um? Se eu gosto eu falo. Se eu não gosto seguro pra mim e enveneno a minha
própria alma. Tenho que mudar. O Brasil não muda.
André Detoni
Publicado em 11 de
agosto na Coluna Pimenteiro do Diário Data X
Nenhum comentário:
Postar um comentário